Os esquecidos da cidade

Marcus Prado
Jornalista

Publicação: 04/08/2025 03:00

Ouço dizer que “fulano de tal” nunca deu prova de trabalho e dedicação às grandes causas do Recife e de seus moradores, mas tem nome em placa de rua, sem nada a nos dizer como justificativa, exemplo de como a “homenagem” pode ocorrer de maneira desconectada da realidade. Posso estar sendo injusto, mas parece ser mais reverência que merecimento. (É louvável a iniciativa do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano com um novo tipo de placas em lugares de referência histórica da cidade).

Dedico esta crônica aos esquecidos das cidades, fenômeno da desmemória histórica e urbana igual em outros tantos lugares não só do Brasil: a Avenue des Champs-Élysées, que já foi chamada de Grande Rue Charles X e, anteriormente, de Grande Rue de la Porte Saint-Antoine.  Como as cidades são construções humanas pelo trabalho físico e mental do homem (Lewis Monfort) o esquecimento faz parte da natureza dos seus criadores. Entre os muitos pernambucanos ilustres esquecidos na geografia urbana da nossa capital, tem sido o caso de Mário Schenberg. 

Pesquisadores de diversas partes do mundo elogiam os trabalhos feitos pelo pernambucano do bairro da Boa Vista, cujas contribuições científicas se estendem a critico de arte plástica, fotografia, curadoria de arte. Foi pioneiro em vários campos da física e da química, da astrofísica e da teoria das partículas elementares, sendo autor de 114 trabalhos sobre astrofísica, física teórica, física experimental, física matemática, análise funcional e geometria. É nome de Rua no Rio de Janeiro, São Paulo (capital e Interior), de Belo Horizonte. Tornou-se amigo do físico Albert Einstein, que o considerava uma das dez personalidades mais importantes do mundo da física e da ciência do século 20. Não há uma placa de rua com o nome dele no Recife. Com ele, os cientistas também esquecidos: Manoel Correia de Andrade, Leopold Naschibin, José Leite Lopes, Gilberto Osório de Andrade, João de Vasconcelos Sobrinho, Evaldo Coutinho, Nelson Saldanha, Zeferino Rocha, Amaro Quintas, Aluízio Coutinho, Nelson Chaves, Oswaldo Gonçalves de Lima, Dárdano de Andrade Lima, Adonis Carvalho. 

Sigo esta lista confiante na memória, portanto, aberta à correção de quem responde pela nomeação de vias públicas, uma competência do município. Alguns talvez já existentes na memória do carteiro, mas quase todos esquecidos. Arrisco nova lista: Pedro Xisto (poeta e diplomata), Tomás Seixas (escritor), Marlos Nobre (maestro), Gláucio Veiga (professor), José Souto Maior Borges (professor), José Lourenço de Lima (professor), Jaci Bezerra (poeta), Antônio Meneses (violoncelista), Carlos Frederico Maciel (professor), Rostand Paraiso (médico e escritor), Léa Pabst Craveiro (jornalista), Potiguar Matos (jornalista), Josefina Aguiar (pianista), Olímpio da Costa Júnior (historiador), Cussy de Almeida (músico), Ladjane Bandeira (pintora e jornalista), Edmund Dansot (fotógrafo), Gilvan Samico (pintor), José do Patrocínio Oliveira (jornalista), Rosa Bomfim (especialista em Patrimônio Cultural), Tereza Tenório (poeta), Audálio Alves (poeta), Gladstone Vieira Belo (jornalista), Elyanna Caldas (pianista), Carlos Moreira (poeta), José Luiz Mota Menezes (arquiteto), Napoleão Barroso Braga (cronista).