A gestão do tempo na alta liderança: um desafio estratégico e pessoal

Tiago Siqueira
Consultor empresarial e sócio da TGI Consultoria em Gestão

Publicação: 04/08/2025 03:00

Em um cenário cada vez mais dinâmico e exigente, o tempo tornou-se um dos ativos mais valiosos — e escassos — para todos os gestores. A forma como um executivo gerencia suas horas de trabalho diz muito sobre sua capacidade de liderança, tomada de decisão, e, sobretudo, sobre sua qualidade de vida.

A ideia de que tempo é dinheiro já não é suficiente. Tempo é clareza, é foco, é presença — tanto no ambiente profissional quanto na vida pessoal. Liderar uma organização exige não apenas competência técnica e visão estratégica, mas também a capacidade de priorizar, delegar e, acima de tudo, proteger o que chamo de “tempo de valor”: aquele dedicado ao que realmente importa.

O acúmulo de tarefas, reuniões intermináveis e uma cultura que ainda valoriza o estar sempre ocupado são sinais claros de uma gestão do tempo ineficaz. Quando um líder não consegue estabelecer limites, o impacto é direto na qualidade das decisões estratégicas. O cansaço compromete a criatividade, a empatia e a clareza necessárias para conduzir equipes e negócios em ambientes complexos.

Além disso, um gestor que não gerencia bem o próprio tempo tende a replicar esse padrão em sua equipe, gerando um ciclo de urgências mal resolvidas, agendas desorganizadas e baixa produtividade. Empresas que cultivam líderes com baixa consciência temporal acabam se tornando reféns do improviso.

Outro impacto importante está na esfera pessoal. Assumir cargos de lideranças não deveria ser sinônimo de ausência em casa, noites mal dormidas ou abandono de hobbies e relações significativas. Quando o tempo é mal administrado, o líder corre o risco de sacrificar sua saúde mental, seus vínculos familiares e até sua própria identidade fora do papel executivo.

A gestão do tempo, nesse sentido, é também uma ferramenta de autocuidado e de sustentabilidade da carreira. Líderes que conseguem organizar sua rotina com inteligência — distribuindo bem as demandas, focando no que é estratégico e desconectando-se quando necessário — são mais equilibrados, mais produtivos e mais humanos.

Na minha trajetória como consultor empresarial e no contato com dezenas de empresas dos mais variados setores, percebo que os líderes que desenvolvem uma relação mais saudável com o tempo também tendem a ser mais inspiradores. São líderes que sabem dizer “não”, que estabelecem prioridades com firmeza e que cultivam o silêncio reflexivo como parte do seu processo decisório.

Não se trata de criar uma agenda engessada, mas sim de fazer escolhas conscientes. Tempo bem gerido é tempo que permite ao líder pensar no futuro, formar sucessores, inovar — e estar presente, de fato, nos momentos importantes da vida e do trabalho.

A gestão do tempo não aparece nos relatórios, mas ela determina o que entra neles. É uma competência silenciosa e poderosa. E, para os líderes, torna-se um diferencial competitivo e humano. O desafio não é ter mais tempo, mas fazer com que o tempo que se tem seja bem vivido e estrategicamente investido.