A banana, seu novo uso e o receio

Vladimir Souza Carvalho
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras
vladimirsc@trf5.jus.br

Publicação: 19/05/2014 03:00

Generalizou-se, agora, tornando-se moda, uma nova forma de usar a banana. Palco: estádio de futebol. Ante um atleta negro, a banana é atirada, tradução direta de preconceito racial. Jogar a fruta nos pés do jogador é uma forma oblíqua de equipará-lo ao macaco, como se o mundo fosse só dos arianos. Não é criação recente. Em alguns clubes cariocas, v. g., Fluminense e Botafogo, o atleta de cor preta era rejeitado, pelo menos até a década de quarenta. Preconceito racial à parte, o problema aqui é o desvirtuamento da banana para fins delituosos, logo com ela, fruta que mais vertentes apresenta, e seu reflexo sobre o preço da fruta.

Palmilho o campo do folclore, em vários setores. Um, no gesto de dar banana, a se operacionalizar com os dois braços, um batendo no outro, ambos eretos, um com a mão fechada. Aqui, ó. Pra você. Os mais novos copiaram dos mais velhos, a refletir nebulosidade ludriante, para não dizer pornográfica, porque a banana, em verdade, é a fruta que mais se assemelha ao falo. Em conseqüência, o dar banana, como aqui descrito, representa modo oblíquo de mandar alguém ... deixa pra lá. Oblíquo e educado. Em lugar de se pronunciar um termo que a dicção portuguesa o insere até em poesia, mas, que, cá para nós, colonizados, soa pessimamente como algo abjeto, o gesto, no silêncio das palavras, o substitui. No fundo, dois caminhos diferentes que vão conduzir ao mesmo ponto. Ou seja, tanto faz seis, como média dúzia. Dá no mesmo.

Não fica só ai. Outro, pelo menos em nível sergipano, e mais do que sergipano, itabaianense, a palavra banana, apesar de ser um substantivo feminino, é usada com o numeral masculino – fulano é um banana -, expressão a designar o homem sem autoridade, autêntico bocó, dominado por outro, seja pai, mãe, mulher, ou filhos. Também serve para designar a pessoa baixa, sob o epíteto de banana curta, como meu pai, ironicamente, fazia comigo, quando comecei a caminhar. Não sei se já aparece em algum dicionário. Ademais, a bananeira só dá cacho uma vez, o que leva o homem a afirmar que quem só amou uma vez é como bananeira. Vejam aí quantos caminhos nos levam a banana. Mas, deixemos o folclore de lado.

Atraquemos na mesa, a fruta no prato. A banana é a única delas a apresentar várias vertentes, sendo servida ao natural, é descascar e comer, como é cozida, a depender da espécie. A primeira, mais conhecida, varia de tamanho e de modalidade. Em Brasília, uma vez, num supermercado, vi, dos cerrados goianos, uma banana bem diminuta, do tamanho quase do dedo mindinho. A cozida, aliás, bem cozida, é sumamente gostosa, seja a banana pão, seja a banana da terra. E ainda há doce de banana, a banana batida no liquidificador, se transformando em vitamina, a farofa de banana, entre outras traquinagens culinárias. Que outra fruta voa tal alto?

O uso da banana, a mexer com o brio de atleta preto, deve ser ato instigado por fruta invejosa, que não vai a mesa, nem freqüenta o mercado, com o fim de desprestigiar a banana. O chato é a verificação de processo de acelerada valorização e subir de preço. Que faz medo, faz.