O horror de tantas vítimas inocentes

Lázaro Guimarães
Magistrado
jlaz@uol.com.br

Publicação: 20/07/2014 03:00

O bardo inglês certamente pensou que criara a caricatura perfeita do mal na figura de Ricardo, o terrível assassino do irmão e dos sobrinhos, movido pela ambição de ser rei. Shakespeare não podia imaginar que a história reduzisse a sua estória a poeira, pois a crueldade dos psicopatas, muitos elevados ao poder, vem alcançando dimensão genocida, graças às conquistas da ciência e da tecnologia.

Agora mesmo, quatro meses após uma dupla de pilotos enlouquecidos desviar para o mergulho fatal, no Oceano Índico, com 239 passageiros a bordo, um avião da Malaysia, vem um grupo de guerrilheiros ensandecidos derrubar com uma bateria potente de mísseis, fornecidos provavelmente pela Rússia, outra aeronave da mesma empresa, matando 298 pessoas, holandeses, australianos e malaios, adultos e crianças que nada tinham a ver com a disputa das terras geladas da Ucrânia. Quem teria entregue aquelas armas aos loucos? Esta é a questão que o Tribunal Penal Internacional deveria resolver, para punir os culpados por inteiro.

Ao mesmo tempo, não muito longe, mais de dois milhões de habitantes da maior concentração habitacional do mundo, talvez a mais miserável, a estreita Faixa de Gaza, uma área do tamanho do bairro de Boa Viagem, é massacrada pela sanha, de um lado, dos doidos do Hamas, com seus foguetes que não conseguem fazer maiores estragos ao inimigo, mas recebem de volta os bombardeios da Força Aérea e da Marinha de Israel e, desde quinta-feira, sofrem o atropelo mortífero dos carros blindados em seu minúsculo território.

De que adianta o progresso, a fantástica revolução do conhecimento e da técnica, se os meios que deles resultam são usados para destruir vidas humanas em massa? Livros e telas às mãos cheias, diria Castro Alves, o poeta baiano, e manda esse povo pensar. Melhor não tê-los, nas palavras de Vinicius, o bardo carioca, porque a humanidade está se degradando a tal ponto que é capaz de um dia, que já não parece tão longínquo assim, destruir por completo o planeta que nos é dado viver.

Por fim, mas não por menos, o profundo pesar pelo falecimento de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, João Ubaldo Ribeiro, meu antigo chefe de redação, na Tribuna da Bahia, cronista e romancista, membro da Academia Brasileira de Letras. E viva o povo brasileiro, que jamais padeceu de impulsos sanguinários.