Bolsa Família e a disponibilidade de mão de obra

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicação: 05/07/2025 03:00

Tem sido frequente empresários e outras pessoas afirmarem que o Bolsa Família, por possuir um valor elevado de transferência mensal, está reduzindo a disponibilidade de mão de obra no país. Dizem que ofertam emprego e não encontram candidatos às vagas. Essa relação criada não passa de uma distorção com o objetivo de destilar ódio contra um programa social e um governo de esquerda.

Os dados a serem comparados para avaliar se há redução da oferta de trabalho são os da taxa de participação da população na força de trabalho. Ela inclui as pessoas empregadas mais as que estão ativamente procurando emprego. No Brasil, o IBGE calcula essa estatística a partir da PNAD Contínua trimestral e inclui informações para a população com 14 anos ou mais de idade. Ela mostra que os níveis atuais da taxa de participação estão próximos ao que existia no período de 2012 a 2018. A média nesse período anterior foi de 62,8%, enquanto a dos últimos quatro trimestres (2024:2 a 2025:1) foi de 62,3%. No entanto, se calcularmos esse percentual apenas para a população com idade entre 18 e 59 anos, as médias passam a ser 75,6% e 76,7% para os dois períodos sob comparação, respectivamente. Ou seja, houve aumento.

Os dados mostram que a taxa de participação caiu entre os mais jovens (14 a 17 anos) de 20,9% para 16,1% e aumentou entre os mais velhos (60 anos e mais) de 22,9% para 24,6%. A queda na taxa de desemprego no período recente levou a maior dedicação dos jovens aos estudos, pois muitos não precisam mais ajudar aos pais na composição da renda familiar. Isso foi o que trouxe uma pequena redução da taxa de participação total quando medida a partir de 14 anos. Mas, na idade adulta, a partir de 18 anos, que é quando a legislação permite empregar, houve aumento efetivo da taxa de participação. Isso significa que não há evidência de queda na oferta de trabalho.

Estudos acadêmicos mais elaborados, que retiram da estatística os efeitos de outras variações, como na taxa de desemprego, por exemplo, também indicam que houve uma elevação na taxa de participação da população na força de trabalho. Ela decorre do dinamismo que o Bolsa Família adiciona em regiões do país onde a perspectiva de conseguir emprego é mais baixa. O crescimento da demanda nessas regiões aumenta as motivações individuais aos adultos se dedicarem ao trabalho ou à sua procura. A expectativa de renda fica mais alta, incentivando as pessoas a entrarem no mercado de trabalho. Essa é mais uma evidência, inclusive, de que a oferta de trabalho é positivamente inclinada.

Então, para os empresários que lamentam a falta de mão de obra, recomendo que aumentem os salários que estão ofertando. Isso, certamente, vai levar à formação de filas nas suas portas em busca das vagas ofertadas. Provavelmente, terão que recompor seus preços, mas isso faz parte do funcionamento de uma economia de mercado. Deixem de ser oportunistas e de ficar culpando um programa social que tira muitos brasileiros da miséria, pelos resultados de suas incompetências. O Brasil já não aguenta mais essa lógica odienta dos Bolsonaristas.