Filósofos de Itabaiana - alguns

Vladimir Souza Carvalho
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras

Publicação: 05/07/2025 03:00

Depois da indagação brota a resposta. É o normal. Contudo, em determinados casos, a operação não se revela assim tão singela, pelo espaço que abre para um resultado desconcertante. É quando está um filósofo, desses que Itabaiana tem as carradas. Então, a coisa muda.  

Dou alguns exemplos. O médico, entre outras, pergunta ao paciente se as fezes expelidas fedem muito. O paciente responde com outra indagação: O senhor estudou para médico ou para burro? Depois, vem a explicação: Para a merda cheirar era preciso que eu comesse sabão. Em outro, o médico perquire o que o paciente tem. Resposta: um sítio, pequeno, coisa miúda, um tantinho de  dez tarefas, umas cinco cabeças de gado, que me dá leite para vender, a carroça e o burro. O médico alerta que não era isso que ele queria saber, e, sim, qual a doença que o paciente tinha. Explicação agora explosiva: Se eu soubesse que doença tinha, já ia direto à farmácia de Oliveirinha, e não estava aqui agora, tomando o tempo do senhor. 

No comércio, igualmente, as ocorrências deste nível se verificam. No armazém de Filomeno – maior filósofo de Itabaiana -, o freguês, com um prego na mão – enferrujado e torto -, indaga ao proprietário se ele tinha prego daquele tipo. Resposta negativa. O freguês aponta a estante em que os pregos estavam colocados, separados de acordo com o tamanho. Os pregos estão ali. Estou vendo igual a este. Filomeno não perde a calma: Os meus pregos não estão enferrujados nem tortos. O senhor pediu um prego igual ao que tem na mão. Desse, eu não tenho. Em outra ocasião, o freguês interpela Filomeno se tinha remédio para formiga. Resposta: Não tinha. Remédio é negócio de farmácia, acrescentou, apontando a de Tenisson, do outro lado da rua. E, no arremate final: eu vendo é veneno. O senhor falou em remédio. Bem diferente.  

Eu mesmo, na feira, fui vítima de um vendedor de cana. Interpelei-o se era doce. Resposta: não, era cana. E nesse caminhar, Daniel de Felismino, diabético, no mercado, se fartando com pedaço de jaca na mão, escondido da esposa. Esta, guardiã da saúde do marido, ao encontrá-lo, com autoridade irrefutável: Isso é jaca, Daniel? E Daniel, de imediato: me venderam como jaca. 

Ah!, os filósofos de Itabaiana. Bem que mereciam um livro. Eu termino aceitando o desafio.