Marcelo Navarro
Membro eleito da Academia Norte Rio Grandense de Letras
mnrdantas@uol.com.br
Publicação: 20/07/2014 03:00
E a Copa acabou, e felizmente não fui eu que acabei com ela: minha “pissica” — era assim que se dizia no meu tempo de criança, com a sílaba tônica no “si” — nem teve como funcionar (o problema seria assistir à final fora de casa, e não chegamos a ela), a Alemanha veio antes e passou o rodo. Ou melhor, o rolo. Compressor. Ganhamos, isso sim, um novo Maracanazo, ou melhor, Mineirazo, para nos assombrar pelos próximos 64 anos. E que ninguém invente de fazer, de novo, Copa no Brasil! Não dá certo, e isso não é superstição, mas fato comprovado, como vimos.
De todas as copas que fizemos aqui, em todas passamos decepção. Por causa de Maradona e Mick Jagger, descobri que pé-frio, em espanhol argentino, é “mufa”. Palavrinha simpática para descrever qualidade nem tanto. Copa do Mundo é igual a Twitter, o que mais se vê são coisas que não têm tradução fácil em português: “wishful thinking” e “Schadenfreude”. O primeiro é aquele pensamento que se apóia mais na vontade de quem o exprime do que na realidade dos fatos. Exemplo: achar que podíamos ganhar sem um time. A segunda — palavra que, como saudade em português, dizem só haver em alemão — é a satisfação pela desgraça alheia. Exemplo: a torcida da maioria dos brasileiros pela Alemanha, na final. Nossos vizinhos do sul — chamá-los “hermanos” virou um clichê que ninguém mais aguenta! — acharam incrível que tenhamos apoiado nossos carrascos do 7 a 1 e não a eles, que são daqui da América do Sul, pobres como nós, etc.
Todo aquele discurso da solidariedade latino-americana, muito bonito pra quem entrou em nossa casa cantando uma musiquinha insuportável contra nós. Não teve vuvuzela. Teve Copa, e que Copa. Não deixaram, felizmente, ter caxirola, mas teve “Brasil, decime qué se siente”. Um porre. E Messi, que merecidamente foi várias vezes o melhor jogador do mundo, e que é, sem dúvida, “más grande” que Maradona — como também era Di Stéfano, que nos deixou em plena Copa —, não merecia o título de melhor do torneio. Como a seleção brasileira não mereceu seu vergonhoso 4º lugar.
Depois do bronze, da prata e do ouro, essa foi uma medalha de micheline.
Parafraseando Bandeira: ouro mareado, mancha o treinador, mancha o convocado. Pois é, antes era, no dizer de Nelson Rodrigues, “a pátria em chuteiras”. Hoje são apenas chuteiras sem pátria. “Brasil, diga o que sente.” De fato, a hora é para isso: as eleições vêm aí. E, para encerrar prestando homenagem a outro supercraque que acaba de ir, João Ubaldo Ribeiro — que perda, meu Deus, que perda! — vale terminar bradando: “Viva o Povo Brasileiro!”
De todas as copas que fizemos aqui, em todas passamos decepção. Por causa de Maradona e Mick Jagger, descobri que pé-frio, em espanhol argentino, é “mufa”. Palavrinha simpática para descrever qualidade nem tanto. Copa do Mundo é igual a Twitter, o que mais se vê são coisas que não têm tradução fácil em português: “wishful thinking” e “Schadenfreude”. O primeiro é aquele pensamento que se apóia mais na vontade de quem o exprime do que na realidade dos fatos. Exemplo: achar que podíamos ganhar sem um time. A segunda — palavra que, como saudade em português, dizem só haver em alemão — é a satisfação pela desgraça alheia. Exemplo: a torcida da maioria dos brasileiros pela Alemanha, na final. Nossos vizinhos do sul — chamá-los “hermanos” virou um clichê que ninguém mais aguenta! — acharam incrível que tenhamos apoiado nossos carrascos do 7 a 1 e não a eles, que são daqui da América do Sul, pobres como nós, etc.
Todo aquele discurso da solidariedade latino-americana, muito bonito pra quem entrou em nossa casa cantando uma musiquinha insuportável contra nós. Não teve vuvuzela. Teve Copa, e que Copa. Não deixaram, felizmente, ter caxirola, mas teve “Brasil, decime qué se siente”. Um porre. E Messi, que merecidamente foi várias vezes o melhor jogador do mundo, e que é, sem dúvida, “más grande” que Maradona — como também era Di Stéfano, que nos deixou em plena Copa —, não merecia o título de melhor do torneio. Como a seleção brasileira não mereceu seu vergonhoso 4º lugar.
Depois do bronze, da prata e do ouro, essa foi uma medalha de micheline.
Parafraseando Bandeira: ouro mareado, mancha o treinador, mancha o convocado. Pois é, antes era, no dizer de Nelson Rodrigues, “a pátria em chuteiras”. Hoje são apenas chuteiras sem pátria. “Brasil, diga o que sente.” De fato, a hora é para isso: as eleições vêm aí. E, para encerrar prestando homenagem a outro supercraque que acaba de ir, João Ubaldo Ribeiro — que perda, meu Deus, que perda! — vale terminar bradando: “Viva o Povo Brasileiro!”