Diana Furtado
Historiadora
dianafurtadoh@gmail.com
Publicação: 30/08/2014 03:00
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Entre os capítulos mais dramáticos do imperialismo na China está o da agressão japonesa ao país, facilitada pela deflagração da I Guerra Mundial. A Inglaterra havia solicitado ao Japão combater os alemães que navegavam em águas chinesas, invocando o tratado de aliança anglo-nipônico de 1902, o qual previa o “apoio caso um dos signatários vier a se envolver em uma guerra contra mais de uma potência” (Artigo III).
Assim, o Japão declara guerra à Alemanha em 15 de agosto de 1914, e envia-lhe um ultimato, exigindo-lhe a retirada de todas as embarcações da marinha alemã das águas do leste asiático, bem como a cessão do território da baía de Jiaozhou (ou Kiauchau), com base em Tsingtao (Qingdao), ao Japão. A Alemanha não responde, e em 24 de agosto a baía é bloqueada pela marinha japonesa. Para os japoneses esta era a tão aguardada oportunidade para afastar a Europa da China e reivindicar sua preponderância sob a Ásia-Pacífico, e é com esse propósito que o Japão, aproveitando a aquiescência da Inglaterra, desembarca suas tropas em Shandong, a província natal de Confúcio, apesar dos protestos da China, que já havia declarado sua neutralidade, em 3 de agosto. Instalados e certos de que nenhuma potência pretendia detê-los no momento, os japoneses encaminham ao presidente chinês Yuan Shikai, em 18 de janeiro de 1915, uma carta com as Vinte e Uma Exigências.
Os direitos econômicos reivindicados pelos japoneses transformavam, em termos práticos, a China numa colônia do Japão: entre as exigências estava a de que “o governo chinês comprometia-se a não ceder ou arrendar a qualquer outra potência nenhum porto ou baía ou qualquer ilha ao longo da costa da China” (artigo único do Grupo IV). Apesar das expressivas manifestações populares chinesas em todo o país, acompanhadas por um boicote aos produtos japoneses, Yuan cede às pressões do Japão, embora aceite apenas 13 das exigências, através de um tratado assinado em 25 de maio, o qual, entretanto, nunca foi ratificado pelo governo chinês. Os japoneses só abandonarão Shandong em dezembro de 1922, por pressão dos Estados Unidos, na Conferência de Washington, mas persistirão na sua política de expansão territorial e de conquista da China, até serem definitivamente expulsos do país no final da Segunda Guerra.