Roberto de Queiroz
Professor
robertodequeiroz@yahoo.com.br
Publicação: 26/11/2014 03:00
A psiquiatra Nise da Silveira aconselha os novos estudantes de psiquiatria a deixar os livros tradicionais de lado e ler Machado de Assis. Doutora Nise assegura que Machado foi seu primeiro mestre e que ele é um escritor que pega as sutilezas. “Os livros tradicionais não falam sobre isso. [...] São elas que abrem o caminho para a alma, para o inconsciente”, conclui (“Os normais são burros”, Revista da Petrobras, p. 4-5, abr. 1997).
Desse modo, no intuito de elucidar o aconselhamento de doutora Nise, faremos uma breve análise de Dom Casmurro, obra de Machado de Assis.
A narrativa gira em torno da paixão de um homem exageradamente cioso e incomplacente, o advogado Bento Santiago (Bentinho), para com sua esposa, Capitolina (Capitu), e seu melhor amigo, Escobar.
A história tem início num trem, quando Bentinho está indo da cidade para casa, no Engenho Novo, bairro do Rio de Janeiro. “Um jovem poeta senta-se a seu lado e começa a ler para ele seus poemas. Bentinho adormece, por desinteresse, e o magoado poeta passa a chamá-lo Casmurro” (Carlos Sepúlveda, introdução de Dom Casmurro, Record, 1999).
Efetivamente, Bentinho é um casmurro, isto é, alguém metido consigo mesmo (Sepúlveda, obra citada). E, mediado pela própria solidão, após a morte dos pais, da esposa e do único filho que teve (se é que era dele), resolve investigar o próprio passado.
Esta monotonia e angustia não o permitiram tomar outro rumo, a não ser interpretar a si próprio, voltar no tempo e indagar seu próprio inconsciente. Dessa forma, inconscientemente, Bentinho mergulha no próprio passado, restaurando não apenas a adolescência, como também a infância e, principalmente, sua grande e inesquecível paixão: Capitu.
Bentinho então “recompra a casa em que vivera parte de sua vida e todas as manhãs senta-se à sala, remobiliada como fora naquele tempo, e escreve ali seu ‘diário’ [que é o livro do qual falamos]” (Sepúlveda, obra citada).
Para esse feito, Machado cria um narrador imbuído da visão com (Bentinho), o qual se limita “ao saber da própria personagem [ele próprio] sobre si mesma e sobre os acontecimentos” de seu passado, exonerando a visão por trás: a onisciência e a onipresença de um deus que tudo sabe e tudo vê. Ou seja, “quanto às suas reflexões e suas memórias”, Bentinho é narrador, e, considerando-se que toda a tragédia casmurriana volta-se em torno de si, ele é protagonista (Ligia Chiappini Moraes Leite, O foco narrativo, Ática, 1985).
Essa obra prima machadiana é um texto complexo, psicológico (e por que não dizer psiquiátrico?). Igualmente, é uma ficção verossímil: não afronta a realidade. Nesse labirinto textual, Machado conduz-nos sempre a indagações, “não pela verossimilhança, que é muita vez toda a verdade”, mas pela incógnita alusão a algumas personagens. Será Capitu realmente adúltera? Apesar de Bentinho acreditar que Escobar é seu comborço, em momento algum podemos afirmar isso com total segurança. A reflexão fica no ar.
Desse modo, no intuito de elucidar o aconselhamento de doutora Nise, faremos uma breve análise de Dom Casmurro, obra de Machado de Assis.
A narrativa gira em torno da paixão de um homem exageradamente cioso e incomplacente, o advogado Bento Santiago (Bentinho), para com sua esposa, Capitolina (Capitu), e seu melhor amigo, Escobar.
A história tem início num trem, quando Bentinho está indo da cidade para casa, no Engenho Novo, bairro do Rio de Janeiro. “Um jovem poeta senta-se a seu lado e começa a ler para ele seus poemas. Bentinho adormece, por desinteresse, e o magoado poeta passa a chamá-lo Casmurro” (Carlos Sepúlveda, introdução de Dom Casmurro, Record, 1999).
Efetivamente, Bentinho é um casmurro, isto é, alguém metido consigo mesmo (Sepúlveda, obra citada). E, mediado pela própria solidão, após a morte dos pais, da esposa e do único filho que teve (se é que era dele), resolve investigar o próprio passado.
Esta monotonia e angustia não o permitiram tomar outro rumo, a não ser interpretar a si próprio, voltar no tempo e indagar seu próprio inconsciente. Dessa forma, inconscientemente, Bentinho mergulha no próprio passado, restaurando não apenas a adolescência, como também a infância e, principalmente, sua grande e inesquecível paixão: Capitu.
Bentinho então “recompra a casa em que vivera parte de sua vida e todas as manhãs senta-se à sala, remobiliada como fora naquele tempo, e escreve ali seu ‘diário’ [que é o livro do qual falamos]” (Sepúlveda, obra citada).
Para esse feito, Machado cria um narrador imbuído da visão com (Bentinho), o qual se limita “ao saber da própria personagem [ele próprio] sobre si mesma e sobre os acontecimentos” de seu passado, exonerando a visão por trás: a onisciência e a onipresença de um deus que tudo sabe e tudo vê. Ou seja, “quanto às suas reflexões e suas memórias”, Bentinho é narrador, e, considerando-se que toda a tragédia casmurriana volta-se em torno de si, ele é protagonista (Ligia Chiappini Moraes Leite, O foco narrativo, Ática, 1985).
Essa obra prima machadiana é um texto complexo, psicológico (e por que não dizer psiquiátrico?). Igualmente, é uma ficção verossímil: não afronta a realidade. Nesse labirinto textual, Machado conduz-nos sempre a indagações, “não pela verossimilhança, que é muita vez toda a verdade”, mas pela incógnita alusão a algumas personagens. Será Capitu realmente adúltera? Apesar de Bentinho acreditar que Escobar é seu comborço, em momento algum podemos afirmar isso com total segurança. A reflexão fica no ar.