José Carlos L. Poroca
Executivo do segmento shopping centers
jcporoca@uol.com.br
Publicação: 15/02/2016 03:00
Já confessei a paixão pelos bichos que voam a mais de 10 mil metros de altura: eles, lá em cima; eu, aqui, com os pés na lama, digo, na terra. Também prazerosa é a aventura de se deslocar até o terminal, aguardar chamada, participar da zorra do embarque e subir sobre as nuvens. Há coisas melhores: ler e ouvir sobre a crise - poucos agüentam, ninguém merece. Há poucos dias, após horas no livre trânsito, cheguei ao aeroporto, em Guarulhos. Como faltava mais de hora para embarcar, resolvi sentar para tomar H2O, acrescida de gelo e líquido amarelado from Escócia. O vizinho da mesa ao lado me cutucou, apontando para meus pés. Olhei, nada vi. Repetiu. Vi: uma lagartixa (taruíra), no meu joelho esquerdo. Pensei em levá-la comigo para ir falando da vida alheia, durante o trajeto. Antes, o réptil, esperto, desceu e saiu correndo.
Fomos coerentes. Se mal sucedido na tentativa de passá-lo pelas máquinas que fazem a detecção de coisas, provavelmente poderia ganhar alguns problemas: constrangimento para ela e detenção para mim. Além disso, como não tenho imunidade parlamentar, o quadro poderia resultar feioso. Alegariam “contrabando de animais”, “zoofilia”, “evasão de divisas”, coisas assim. A lagartixa foi além: usou da sua ‘inteligência’ para não seguir um bolso ou uma cueca e, depois, se arrepender pelo resto da vida.
O bichinho agiu de acordo com o instinto, como fazem os animais chamados de irracionais. Veja, por exemplo, o escaravelho (besouro), aquele que chamam de rola-bosta. Há quem critique a espécie pelo hábito de formar um bolo de cocô, que também serve de alimento, para que possa colocar seus ovos e ainda ajudar no nascimento das plantas cujas sementes vêm junto com o bolo. O bicho não está nem aí: continuará fazendo o que recomenda a natureza.
Pior fazem os racionais: vivem no cocô e fazem de conta que não estão, destroem a terra e não estão nem aí para as gerações futuras. A propósito, vi a comoção provocada pela cena de garoto afogado quando tentava cruzar o mar para chegar a terras europeias. Triste e absurdo, mas não há necessidade de ir tão longe. Aproveitem a alta do dólar e entrem pelos interiores deste meu Brasil varonil: verão milhares de crianças vítimas do descaso, os sobreviventes do naufrágio da vergonha. São os besourinhos barrigudinhos acostumados a conviver com o (mau) cheiro e a sobreviver na lama.
Fomos coerentes. Se mal sucedido na tentativa de passá-lo pelas máquinas que fazem a detecção de coisas, provavelmente poderia ganhar alguns problemas: constrangimento para ela e detenção para mim. Além disso, como não tenho imunidade parlamentar, o quadro poderia resultar feioso. Alegariam “contrabando de animais”, “zoofilia”, “evasão de divisas”, coisas assim. A lagartixa foi além: usou da sua ‘inteligência’ para não seguir um bolso ou uma cueca e, depois, se arrepender pelo resto da vida.
O bichinho agiu de acordo com o instinto, como fazem os animais chamados de irracionais. Veja, por exemplo, o escaravelho (besouro), aquele que chamam de rola-bosta. Há quem critique a espécie pelo hábito de formar um bolo de cocô, que também serve de alimento, para que possa colocar seus ovos e ainda ajudar no nascimento das plantas cujas sementes vêm junto com o bolo. O bicho não está nem aí: continuará fazendo o que recomenda a natureza.
Pior fazem os racionais: vivem no cocô e fazem de conta que não estão, destroem a terra e não estão nem aí para as gerações futuras. A propósito, vi a comoção provocada pela cena de garoto afogado quando tentava cruzar o mar para chegar a terras europeias. Triste e absurdo, mas não há necessidade de ir tão longe. Aproveitem a alta do dólar e entrem pelos interiores deste meu Brasil varonil: verão milhares de crianças vítimas do descaso, os sobreviventes do naufrágio da vergonha. São os besourinhos barrigudinhos acostumados a conviver com o (mau) cheiro e a sobreviver na lama.