Vladimir Souza Carvalho
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras
Publicação: 02/08/2025 03:00
O nome do mudo: José Augusto de Oliveira. A triste condição de mudo fez com que o nome ficasse em plano secundário, e, eu mesmo, só sei porque uma vez vi escrito por ele com um aposto aspeado depois do nome: ”O Mudo”. Por ser filho de Firmino do fosco, passou a ser o Mudo de Firmino do fosco. Dane-se o nome de registro civil. Deve estar com quase setenta anos. Vive, ou viveu, - há muito não tenho notícias dele -, na mesma casa em que nasceu, na Rua Marechal Deodoro, ao lado de dois irmãos: Airton, o mais velho dos três, que puxa de uma perna, caminha o dia inteiro pelas ruas da cidade, queixando-se de ter sido expulso de casa por um tarado que dorme com a mulher e com a filha, deixando todo mundo revoltado. Tudo é fruto de sua cabeça. Não é casado, nem amigado, nem é pai. O outro, Beto, mais novo, só faz rir, quer na porta da rua, quer na calçada da casa à frente da sua. Já foi casado, deve ser avô, se souber o que significa. Havia outro, Zé Luiz, o mais velho dos homens, morto há alguns anos.
Papai conversava com o Mudo. Comunicação feita com as mãos, na fabricação de gestos. Alba herdou a mesma capacidade, com paciência para ouvir o Mudo, respondendo-o e passando adiante suas revelações. De uma delas gravei. Beto, em um supermercado, no espaço das televisões, só olhando e rindo. Um cidadão deu-lhe uma de presente, mas teve o cuidado de colocá-la dentro de uma grade de ferro, feita sob encomenda, para evitar que a molecada – que se aproveita dos três – levasse o aparelho. O Mudo desembuchou e Alba entendeu. A grade impedia que ele visse tudo que se apresentava, apontando para as tiras de ferro no meio, o que o incomodava, e, daí, o desabafo, a boca emitindo sons que se traduziam por reclamação.
Há anos e anos, eu esperava na entrada da cidade a chegada do time do Itabaiana, que tinha conquistado o título de campeão sergipano. Estava no banco de trás, Helder, bem pequeno, de lado. O Mudo apareceu prestando a Carlos Augusto alguma informação, e, me vendo, passou para a porta do banco traseiro a fim de me cumprimentar. Cabelo despenteado, o vazio de dentes arrancados bem visível que o riso exibia. Colocou a cabeça dentro do carro. Uma autêntica careta para o carnaval do sujo. Helder assustou-se e chorou. Ainda hoje é me lembrar da cena e não segurar o riso.
Papai conversava com o Mudo. Comunicação feita com as mãos, na fabricação de gestos. Alba herdou a mesma capacidade, com paciência para ouvir o Mudo, respondendo-o e passando adiante suas revelações. De uma delas gravei. Beto, em um supermercado, no espaço das televisões, só olhando e rindo. Um cidadão deu-lhe uma de presente, mas teve o cuidado de colocá-la dentro de uma grade de ferro, feita sob encomenda, para evitar que a molecada – que se aproveita dos três – levasse o aparelho. O Mudo desembuchou e Alba entendeu. A grade impedia que ele visse tudo que se apresentava, apontando para as tiras de ferro no meio, o que o incomodava, e, daí, o desabafo, a boca emitindo sons que se traduziam por reclamação.
Há anos e anos, eu esperava na entrada da cidade a chegada do time do Itabaiana, que tinha conquistado o título de campeão sergipano. Estava no banco de trás, Helder, bem pequeno, de lado. O Mudo apareceu prestando a Carlos Augusto alguma informação, e, me vendo, passou para a porta do banco traseiro a fim de me cumprimentar. Cabelo despenteado, o vazio de dentes arrancados bem visível que o riso exibia. Colocou a cabeça dentro do carro. Uma autêntica careta para o carnaval do sujo. Helder assustou-se e chorou. Ainda hoje é me lembrar da cena e não segurar o riso.