José Carlos L. Poroca
Executivo do segmento shopping centers
Publicação: 15/03/2016 03:00
Houve um tempo (não o meu) em que falar e escrever difícil era sinônimo de intelecto e conhecimento das letras. Não sempre era. Muitos se aproveitavam disso para enganar trouxas, trazendo colocações que faziam bem (ou mal) aos ouvidos e pouco ou nada significavam. Descobriu-se, mais na frente, que a língua pátria, que é complexa pela própria natureza, podia ser manuseada sem atalhos e sem necessidade de ir por trilhas tortuosas. Conheci advogado que tentava demonstrar saber jurídico ao responder oralmente determinadas questões junto a clientes, indicando artigos de Códigos. Impressionava, menos para um cliente, que ouvia atentamente e, simultaneamente, fazia anotações durante a interlocução; descobriu que o notável saber do causídico não passava por média, as citações eram inconsistentes.
O mundo mostrou que podemos ser mais objetivos, sem exageros e sem descaminhos, como essa linguagem de internautas que nove entre dez utilizam. Podemos dizer, em filosofia de alto nível, que as coisas são como são sem tirar nem por, sem necessidade de cobertura de chocolate.
Aproveito para registrar a minha (boa) impressão sobre Respire, de Mélanie Laurent. Taxado de melancólico e perverso, mostra como se faz um grande filme sem orçamentos estratosféricos, sem estrelas, sem vai-e-vem-e-vai, sem efeitos especiais. Mostra capacidade de transferir para a tela uma obra instigante, bem construída, com suspense sem exageros, como, por analogia, a espreita de uma presa por um leopardo que não apresenta estar com fome. Não dá para contar o final, mas, na natureza, na hora do pega pra capar, qualquer das partes pode se sair bem ou mal.
Pegando a deixa, não é demais dizer que os do meu país estão precisando respirar. Estamos no sufoco, na ponta dos pés, com água entre a boca e o nariz. Alguns estão nesse amaríssimo travor, com sabor de fel com chocolate, que, dizem, só desaparecerá com o tempo, após muita água sanitária, solvente, lixa e desinfetante. Na outra ponta, a turma do “não estou nem aí” preocupa-se, única e exclusivamente, em livrar cabeças, em não perder boquinhas e saldos (US$ e €) acumulados ao longo de jornadas. Mais um ano já se foi e, enquanto seu Lobo e seu Leão estão famintos e com bocas abertas, essa turma está empurrando com a barriga, para 2017, o dever de casa de 2010 a 2016.
(“Amaríssimo Travor” integra a letra da música Ontem ao Luar, feita por Catulo da Paixão Cearense e Pedro Alcântara, gravada ‘n’ vezes).
O mundo mostrou que podemos ser mais objetivos, sem exageros e sem descaminhos, como essa linguagem de internautas que nove entre dez utilizam. Podemos dizer, em filosofia de alto nível, que as coisas são como são sem tirar nem por, sem necessidade de cobertura de chocolate.
Aproveito para registrar a minha (boa) impressão sobre Respire, de Mélanie Laurent. Taxado de melancólico e perverso, mostra como se faz um grande filme sem orçamentos estratosféricos, sem estrelas, sem vai-e-vem-e-vai, sem efeitos especiais. Mostra capacidade de transferir para a tela uma obra instigante, bem construída, com suspense sem exageros, como, por analogia, a espreita de uma presa por um leopardo que não apresenta estar com fome. Não dá para contar o final, mas, na natureza, na hora do pega pra capar, qualquer das partes pode se sair bem ou mal.
Pegando a deixa, não é demais dizer que os do meu país estão precisando respirar. Estamos no sufoco, na ponta dos pés, com água entre a boca e o nariz. Alguns estão nesse amaríssimo travor, com sabor de fel com chocolate, que, dizem, só desaparecerá com o tempo, após muita água sanitária, solvente, lixa e desinfetante. Na outra ponta, a turma do “não estou nem aí” preocupa-se, única e exclusivamente, em livrar cabeças, em não perder boquinhas e saldos (US$ e €) acumulados ao longo de jornadas. Mais um ano já se foi e, enquanto seu Lobo e seu Leão estão famintos e com bocas abertas, essa turma está empurrando com a barriga, para 2017, o dever de casa de 2010 a 2016.
(“Amaríssimo Travor” integra a letra da música Ontem ao Luar, feita por Catulo da Paixão Cearense e Pedro Alcântara, gravada ‘n’ vezes).