Acerca das Olimpíadas

Publicação: 16/08/2016 03:00

Do espírito olímpico dos tempos de Coubertin, pouco resta nos corpos cientificamente esculpidos dos atletas. Os patrocinadores querem retorno. Os cartolas, vantagens. Os competidores, dinheiro e fama. E o público em geral, entretenimento e assunto para o dia a dia.

Antes disso, quando o mercado ainda não se tornara o todo-poderoso de nosso dias, as ditaduras de direita e esquerda usavam as olimpíadas como propaganda ideológica. Hitler o fizera em 1936, e nas décadas subsequentes países como Cuba, Polônia, Alemanha Oriental e União Soviética angariavam corações e mentes na proporção dos pódios conquistados. Hoje, o totalitarismo é do mercado.

Que a prática esportiva seja desejável, enriquecedora e salutar, não restam dúvidas. Desde os gregos, mens sana in corpore sano, receita da vida longa e feliz. Mas a deformação dos músculos e a obsessão mental a que se submetem tantas juventudes roubadas é uma questão a se refletir. Muitas histórias de superação, muito romance, mas quantas frustrações reais não teriam ficado no meio do caminho? Os atletas de renome, estes transformados em semideuses e marcas de refrigerante. Difícil imaginar outro setor tão atraente para o mercado. Enquanto isso, no Brasil, investe-se pouco no aprimoramento educacional e cultural da população.

Para os atuais jogos, avulta a gastança pública. Tal como aconteceu na Copa do Mundo, um dinheirama desperdiçado em um país de premências. Parcela considerável da nossa energia drenada para instalações faraônicas, em meio ao constrangimento das desigualdades sociais, da violência urbana, da recessão econômica, da corrupção que enjaula políticos e empresários.

Para esta Olimpíada, o governo brasileiro e as empresas privadas cuidaram de enviar atletas para treinar no exterior. Todo cuidado é pouco para evitar outro vexame de sete a um. A bem da verdade, nosso país nunca atingiu performances de escol. Nos jogos de Londres, classificou-se em vigésimo segundo, mas se o ranking fosse de medalhas por habitante, restaríamos em sexagésimo nono, posição não muito diferente da que ocupamos na classificação do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.

Em meio a tanto pessimismo, vale buscar o de mais positivo na grande festa desportiva, alegria e sopro de esperança. Que as medalhas conquistadas nos sirvam de estímulo para mais solidariedade social, defesa ambiental, dedicação aos estudos e ao trabalho. Conseguiremos?

* Economista ambiental