As ramificações de um tronco familiar

Marly Mota
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicação: 20/01/2017 03:00

De um passado distante, nos chegam: origem, ascendência e ramificações de uma família, que os mais antigos principalmente os portugueses chamavam, ainda chamam: Tronco. Convocador e evocativo em torno de famílias distantes, e mais próximas, dando ênfase, à hierarquia familiar, vinculada a casamentos, ordem religiosa e associações de caráter científico literário.

Nesse espaço faço a minha louvação ao tronco do Capitão cirurgião José Pedro dos Reis, natural de Salvaterra de Magos, Santarém, Portugal, casado com D. Maria de Jesus do Espírito Carneiro da Cunha, em Olinda, Pernambuco a 6 de setembro de 1741. Algumas famílias pernambucanas, se incorporaram ao vigoroso tronco. Quando menina, ouvia dos mais velhos, o dito popular: Casa tua filha com o filho do teu vizinho. Recomendação, acatada por muitos. Principalmente em casamentos entre primos. A prima Helena, aos 11 anos, brincava com bonecas entre as primas mais novas, eu entre elas, quando o meu tio avô Diógenes, pai de Helena, a filha caçula, prometida por ele, em casamento com o viúvo de sua irmã mais velha. Os olhos ingênuos e assustados de Helena não assumiam a grave decisão.

Em fotos antigas, deu-se o encontro prazeroso, da casa das irmães Ângela Felícia Lins de Albuquerque, bisavó de Mauro Mota e de João Cabral – a de Maria Cândida Lins de Albuquerque, mãe de João Bandeira, tio de Manuel Bandeira. Eis o tronco que deu seis membros à Academia Brasileira de Letras: Manuel Bandeira, Mauro Mota, João Bandeira, tio de Manuel Bandeira, João Cabral. Múcio Leão e Olegário Mariano parentes mais distantes. Mauro Mota e João Cabral, primos mais próximos ambos bisnetos de Seu Mello de Tabocas, como o chamavam.

No Diario de Pernambuco de 5/2/1984 Mauro Mota escreve sobre: O Bisavô Melo Azedo. Comenta: “(...) Da tradição oral recolhi os traços de uma figura áspera e doce, terna e violenta, grave e chistosa, patriarca ele mesmo e levando na pilheria o patriarcado o que era uma forma de ver adiante do seu tempo. Desse homem temperamental, afirmando em qualidades tão aparentemente antagônicas, ficaram histórias que o incorporaram para sempre às lembranças da região. Quando chegou a Tabocas um gringo de Madagascar, vendendo sedas, perfumes e joias, seu Melo permitiu que se entendesse, para efeito de negócio, com a filha Candinha, então em férias, pois estudava em colégio no Recife. Mas ficou ao pé da conversa, acariciando um cipó-pau bem criado. Explicou depois: - Eu não sei francês. Se a menina ouvisse alguma safadeza, corava. E se ela corasse eu reduzia a pó de osso as costelas do galego. É esse o seu Mello, semeador de pitoresco na zona da mata pernambucana,durante a segunda metade do século XIX, que vai ser agora, imortalizado no poema: Seu Mello de Tabocas, do bisneto João, que dedica o poema, a Mauro Mota também seu bisneto.

Incentivado pelo amigo, Álvaro Lins, grande crítico literário, Mauro Mota ganhando terreno resolveu candidatar-se a vaga que pertencera a Gilberto Amado. João Cabral já acadêmico, Mauro Mota envia telegrama ao primo. Quero dois bisnetos na Academia: Ass. Seu Melo de Tabocas.

Mauro Mota no seu livro Barão de Chocolate & Companhia - Apelidos Pernambucanos (Pool Editorial, 1983), num conjunto de acepções, fala do Pai Adão, que deixou uma prole de 30 ou 40 filhos. É o 11º avô do insigne médico nosso parente, Joaquim de Souza Cavalcanti. Surpreendo-me ainda mais, quando aparece Diogo Soares Albuquerque de quem nunca ouvira falar, e se anuncia, amistosamente ascendente comum meu e de Mauro Mota. É o sexto avô de Mauro, e meu também. Fomos primos em décimo primeiro grau de consanguinidade. Seria prazeroso sabê-lo, durante os 34 anos enquanto caminhávamos de mãos dadas.