Marcus Prado
Jornalista
Publicação: 30/06/2025 01:00
“Dois homens não veem uma mesa da mesma maneira”
(Fernando Pessoa/Ricardo Reis)
A mesa de jantar de madeira nobre, repleta de louças que, pelo brilho dos talheres tirados do faqueiro trazido de um antiquário, a brancura dos conjuntos de suportes para talheres, a poncheira de cristal, a toalha de mesa em linho branco com detalhes em relevo, os cálices de vinho e outros de licores, os tapetes de mesa, os guardanapos de fino algodão adamascados na textura, os porta-guardanapos de argola de plástico, com efeitos cromados, pratos fundos e rasos de 21cm, pratos de sobremesa de 15 cm, todos de porcelana, o açucareiro antigo de linhagem Sacavem Português, a mesa de apoio lateral redonda, sobre ela, um jarro de flores, levam charme à sala de jantar, um ambiente familiar de requintado estilo do século 19, no anexo do Museu do Estado (Rua Rui Barbosa, Recife).
Tudo isso no incrível acervo histórico e memória de um tempo pernambucano. Cada mesa, seja qual for a sua época ou lugar, por mais simples que seja, para quem sabe olhar e ver, além do seu significado emblemático pode ter muita história a contar, como a grande mesa do museu recifense.
Duas mesas cativas, eu as conheci, ficaram na memória literária, cada uma de quatro lugares: a do poeta Fernando Pessoa, no Café Martinho da Arcada (o mais antigo de Lisboa, fundado em 1782), e a do poeta Mauro Mota, que teria hoje 60 anos (Dom Pedro, na Rua do Imperador/Recife). Nos quatro lugares de uma mesa, a do poeta e seus heterônimos, cabia um tempo de inesquecível convivência de intelectuais, o da Geração Orfeu; na outra mesa, também cativa, com a marca de Mauro Mota, nas suas quatro cadeiras, havia lugar para mais de uma geração de escritores e poetas pernambucanos.
A de Fernando Pessoa, tantas vezes lembrada pelos escritores Joel Pontes, José Paulo Cavalcanti Filho e Alfredo Antunes, especialistas na vida e na poesia de Pessoa, ainda existe e é vista tal como foi ocupada a última vez pelo autor de Mensagem. Está no roteiro de todos peregrinos amantes da poesia pessoana que visitam a capital portuguesa. Ele costumava fazer ali as refeições e passar longas horas lendo e escrevendo, debruçado sobre a mesa de tampo de pedra. Era como se fosse seu escritório pessoal. Sem deixar de ser uma mesa, virou patrimônio histórico de Portugal. Foi ali, no outono de 1935, que Pessoa e Almada Negreiros partilharam um último café, dias antes da morte do poeta. Uma pintura de Almada trazida por Assis Chateaubriand, acha-se no banquete dos esquecidos do MAC/Olinda, fechado há mais de 10 anos.
A mesa cativa do poeta, jornalista e geógrafo Mauro Mota, no restaurante Dom Pedro, para sempre fechado, era também um ponto de encontro e de convivência de escritores e jornalistas amigos do poeta das Elegias, que marcaram época no Recife nas últimas décadas do século passado. No Dom Pedro, combinando jornalismo e literatura, ele se encontrava com Esmaragdo Marroquim, Vicente do Rego Monteiro, Raimundo Carrero, Cláudio Aguiar, Alberto da Cunha Melo, Ângelo Monteiro, Ivanildo Sampaio, Tereza Tenório, Nilo Pereira, Vanildo Cavalcanti, Pelópidas Soares, José Rodrigues de Paiva, Alvacir Raposo, Jaci Bezerra, José Mário Rodrigues, Alberto Frederico Lins, Almir de Castro Barros, Lucila Nogueira, Ladjane Bandeira, entre outros.
(Fernando Pessoa/Ricardo Reis)
A mesa de jantar de madeira nobre, repleta de louças que, pelo brilho dos talheres tirados do faqueiro trazido de um antiquário, a brancura dos conjuntos de suportes para talheres, a poncheira de cristal, a toalha de mesa em linho branco com detalhes em relevo, os cálices de vinho e outros de licores, os tapetes de mesa, os guardanapos de fino algodão adamascados na textura, os porta-guardanapos de argola de plástico, com efeitos cromados, pratos fundos e rasos de 21cm, pratos de sobremesa de 15 cm, todos de porcelana, o açucareiro antigo de linhagem Sacavem Português, a mesa de apoio lateral redonda, sobre ela, um jarro de flores, levam charme à sala de jantar, um ambiente familiar de requintado estilo do século 19, no anexo do Museu do Estado (Rua Rui Barbosa, Recife).
Tudo isso no incrível acervo histórico e memória de um tempo pernambucano. Cada mesa, seja qual for a sua época ou lugar, por mais simples que seja, para quem sabe olhar e ver, além do seu significado emblemático pode ter muita história a contar, como a grande mesa do museu recifense.
Duas mesas cativas, eu as conheci, ficaram na memória literária, cada uma de quatro lugares: a do poeta Fernando Pessoa, no Café Martinho da Arcada (o mais antigo de Lisboa, fundado em 1782), e a do poeta Mauro Mota, que teria hoje 60 anos (Dom Pedro, na Rua do Imperador/Recife). Nos quatro lugares de uma mesa, a do poeta e seus heterônimos, cabia um tempo de inesquecível convivência de intelectuais, o da Geração Orfeu; na outra mesa, também cativa, com a marca de Mauro Mota, nas suas quatro cadeiras, havia lugar para mais de uma geração de escritores e poetas pernambucanos.
A de Fernando Pessoa, tantas vezes lembrada pelos escritores Joel Pontes, José Paulo Cavalcanti Filho e Alfredo Antunes, especialistas na vida e na poesia de Pessoa, ainda existe e é vista tal como foi ocupada a última vez pelo autor de Mensagem. Está no roteiro de todos peregrinos amantes da poesia pessoana que visitam a capital portuguesa. Ele costumava fazer ali as refeições e passar longas horas lendo e escrevendo, debruçado sobre a mesa de tampo de pedra. Era como se fosse seu escritório pessoal. Sem deixar de ser uma mesa, virou patrimônio histórico de Portugal. Foi ali, no outono de 1935, que Pessoa e Almada Negreiros partilharam um último café, dias antes da morte do poeta. Uma pintura de Almada trazida por Assis Chateaubriand, acha-se no banquete dos esquecidos do MAC/Olinda, fechado há mais de 10 anos.
A mesa cativa do poeta, jornalista e geógrafo Mauro Mota, no restaurante Dom Pedro, para sempre fechado, era também um ponto de encontro e de convivência de escritores e jornalistas amigos do poeta das Elegias, que marcaram época no Recife nas últimas décadas do século passado. No Dom Pedro, combinando jornalismo e literatura, ele se encontrava com Esmaragdo Marroquim, Vicente do Rego Monteiro, Raimundo Carrero, Cláudio Aguiar, Alberto da Cunha Melo, Ângelo Monteiro, Ivanildo Sampaio, Tereza Tenório, Nilo Pereira, Vanildo Cavalcanti, Pelópidas Soares, José Rodrigues de Paiva, Alvacir Raposo, Jaci Bezerra, José Mário Rodrigues, Alberto Frederico Lins, Almir de Castro Barros, Lucila Nogueira, Ladjane Bandeira, entre outros.