Individualismo metodológico e marxismo

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicação: 26/08/2023 03:00

O individualismo metodológico, introduzido como conceito por Max Weber e Joseph Schumpeter, no início do século 20, apresentou-se desde então como uma crítica ao marxismo. Esse último trabalhava com conceitos agregados, como era comum entre os economistas clássicos. Ele foi a contrapartida nas demais ciências sociais do que foi a revolução marginalista na economia, introduzida ao final do século 19 por Carl Menger, Stanley Jevons, entre outros. Apregoava que todas as ciências sociais deveriam partir dos indivíduos, suas motivações e ações, para gerar o resultado do agregado. Amantes das teorias da conspiração diriam que foi uma forma de desorganizar os trabalhadores e evitar o embarque de mais países nas revoluções socialistas. Mas isso é, como diria o nosso Papa-Figo, jornal de humor pernambucano, paranoia de quem acha.

O marxismo, viciado em trabalhar com categorias agregadas, principalmente classes sociais, em que a racionalidade dos indivíduos é de pouca relevância, continuou a desenvolver várias de suas ideias sobre o que resultava dos conflitos sociais e o que seriam os novos a surgir. Desprezou a importância das motivações individuais. Entretanto, o individualismo metodológico muitas vezes levava ao que seria de fato uma espécie de atomismo, pois os indivíduos passavam a ser considerados como quase independentes do meio social. A Teoria Econômica, com seus modelos de otimização individual, sem considerar as ações dos demais indivíduos contribuiu muito para essa visão atomista. A sociologia, nessas concepções, estava quase virando um ramo da psicologia, pois os indivíduos tinham estímulos não muito moldados pelo meio social. Contudo, a Teoria dos Jogos conseguiu resgatar a cientificidade do individualismo metodológico e retirou-o de um atomismo simplificador. Ela trouxe de volta a consideração e reação aos demais indivíduos para compor uma representação mais próxima da realidade. Com isso, as ciências sociais ganharam uma dialética mais complexa, em que o indivíduo e o meio interagem para compor a realidade.

O que falta é os teóricos do marxismo estudarem mais a Teoria dos Jogos e incorporarem suas contribuições à interpretação da realidade. Com isso, vai se poder restabelecer o papel da racionalidade individual na interação social e com isso aprofundar a compreensão do mundo em que vivemos. Infelizmente, a Teoria Marxista ainda está engatinhando nessa evolução. As concepções de alguns de seus ícones, como Gramsci e Lukács, terão que ser completamente revistas para incorporar essa evolução metodológica. E ainda se faz necessário incorporar as ideias de Freud, que foi de encontro ao individualismo metodológico ao trazer o papel do inconsciente e dos instintos nas decisões individuais, questionando a hipótese de racionalidade, e também pôs em cheque o marxismo pelas suas agregações, muitas vezes cheias de desejos e valores morais na definição das ações coletivas. O evolucionismo de Darwin já se encontra aos poucos sendo incorporado, mas ainda com o risco de introduzir funcionalismo nas ideias marxistas menos profundas. No que diz respeito ao individualismo metodológico, é possível criar uma superação de sua visão, junto com as concepções agregacionistas, desde que recorrendo à Teoria dos Jogos.