Vladimir Souza Carvalho
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras
Publicação: 21/12/2024 03:00
As festividades começavam com antecedência na compra dos cortes de tecido para as calças, duas minhas, duas de Bosco. O tecido era molhado e estendido no pátio. Enxuto, lá íamos nós dois a casa do alfaiate, tomar as medidas. Era tempo, então, de ganhar roupa nova, a serem usadas na feirinha de Natal e na do Ano Novo. Na de Reis, repetia-se a de Natal. Durante todo o ano, no final de semana, ora vestíamos uma, ora a outra, revezando com as remanescentes, ganhas em finais de anos anteriores. Eram todas denominadas de roupa do dia de domingo. 6
O Natal, assim, era tempo de ganhar roupa nova, tempo de conquista. Roupa nova apagava tristeza, fazia a gente rir sem ouvir anedotas, se sentir rico sem ter dinheiro no bolso, não ficando a conquista só nas calças, também nas camisas, com a diferença que essas eram de fábricas, camisas polos, na maioria, citando, de memória, as Vale Zero (seria esse mesmo o nome?) e Volta ao Mundo, ou seja, não eram pagãs, só sendo batizadas muito depois com o nome de polo, que eu as trato, propositadamente, de apolo, e, de calça e camisa novas, era momento de ir à feirinha, à tarde, e, depois, à noite, assentar sempre lugar em redor da onda, porque Natal sem a onda não era Natal, na onda estavam as meninas que se tornavam moças, e, as moças já diplomadas, que se punham em exposição, usufruindo os olhares de todos os rapazes que no entorno da onda se plantavam, podendo daí nascer um namoro na troca inicial de olhares. 16
A onda era ponto de pousada de gente de todas as idades. Nenhum outro brinquedo atraia tanta gente como a onda. Nem o balanço, que nunca achei graça, nem o trivoli de cavalos já carcomidos pelo tempo e uso, nem as barcas, principalmente a dos adultos, que pareciam querer tocar no céu, batendo nas folhas dos oitizeiros dando a impressão de que iam desabar, nem os carroceis reservados só para crianças, sob a vigilância paterna, nenhum competia com a onda, a começar pelos vergalhões de ferros que nasciam do tronco central, segurando as cadeiras, bem conservados e untados de óleo, a oferecer segurança aos que nela subiam e aos que ficavam na sua cercania. O Natal daqueles tempos era a onda e a onda, o Natal, a ponto de me deixar em dúvida se eu sinto saudade é do Natal ou é da onda. Para não ter confusão, ato um ao outro. E aí respondo: dos dois.
O Natal, assim, era tempo de ganhar roupa nova, tempo de conquista. Roupa nova apagava tristeza, fazia a gente rir sem ouvir anedotas, se sentir rico sem ter dinheiro no bolso, não ficando a conquista só nas calças, também nas camisas, com a diferença que essas eram de fábricas, camisas polos, na maioria, citando, de memória, as Vale Zero (seria esse mesmo o nome?) e Volta ao Mundo, ou seja, não eram pagãs, só sendo batizadas muito depois com o nome de polo, que eu as trato, propositadamente, de apolo, e, de calça e camisa novas, era momento de ir à feirinha, à tarde, e, depois, à noite, assentar sempre lugar em redor da onda, porque Natal sem a onda não era Natal, na onda estavam as meninas que se tornavam moças, e, as moças já diplomadas, que se punham em exposição, usufruindo os olhares de todos os rapazes que no entorno da onda se plantavam, podendo daí nascer um namoro na troca inicial de olhares. 16
A onda era ponto de pousada de gente de todas as idades. Nenhum outro brinquedo atraia tanta gente como a onda. Nem o balanço, que nunca achei graça, nem o trivoli de cavalos já carcomidos pelo tempo e uso, nem as barcas, principalmente a dos adultos, que pareciam querer tocar no céu, batendo nas folhas dos oitizeiros dando a impressão de que iam desabar, nem os carroceis reservados só para crianças, sob a vigilância paterna, nenhum competia com a onda, a começar pelos vergalhões de ferros que nasciam do tronco central, segurando as cadeiras, bem conservados e untados de óleo, a oferecer segurança aos que nela subiam e aos que ficavam na sua cercania. O Natal daqueles tempos era a onda e a onda, o Natal, a ponto de me deixar em dúvida se eu sinto saudade é do Natal ou é da onda. Para não ter confusão, ato um ao outro. E aí respondo: dos dois.