Alexandre Rands Barros
Economista
Publicação: 04/01/2025 03:00
As evoluções dos mercados financeiros e de capitais brasileiros são formadas por um número imenso de pessoas. São jovens e “adultos” que geralmente tiveram bom desempenho educacional, mas muitas vezes se deixam levar pelas suas emoções quando emitem opiniões, apesar de serem mais racionais nas suas tomadas de posições no mercado. Pois esse não perdoa, posições erradas geram prejuízos, muitas vezes elevados. Comumente, avaliam números a partir da forma como aparecem nas suas telas, sem considerar informações adicionais relevantes para a análise, apesar de pouco importantes para as operações de curtíssimo prazo com que mais se ocupam. A visão catastrófica da desvalorização cambial recente é um bom exemplo desse problema.
Tivemos elevação da taxa de câmbio (R$/US$) nas últimas semanas. Isso fez explodir as afirmações de que isso era uma consequência da falta de credibilidade e má gestão da política fiscal do atual governo. Mas as afirmações são feitas sem que haja uma análise mais acurada. Calculei a taxa de câmbio real efetiva para o período 01/1953 a 12/2024, corrigindo os valores nominais pela inflação do Real, medida pelo IPCA, e do US dólar, medida pelo IPC do Bureau of Labor Statistics (BLS). A série do IPCA foi complementada pela do IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas, para o período anterior a 12/1979. Nessa correção, escolheu-se a média de novembro de 2024 como momento em que a taxa efetiva e a nominal coincidiram. Os números mostram que: (i) a taxa de câmbio atual está abaixo do que ela foi na maioria de nossa história econômica recente (1953-2024). (ii) Ela está abaixo do que foi nos governos militares e de Bolsonaro. (iii) Em momento nenhum entre 1964 e 1985, os militares conseguiram uma taxa de câmbio real efetiva menor do que a mais alta do governo Lula III, até então. (iv) No governo Bolsonaro, a taxa de câmbio efetiva esteve acima de R$ 6,30 por 21 meses. (v) Em dois anos, 2020 e 2021, a média anual foi superior a R$ 6,50, bem acima dos patamares atuais.
Há três fatores que mudaram a taxa de câmbio de equilíbrio no Brasil, recentemente. O primeiro foi a queda da produção agropecuária e redução dos superávits comerciais. O segundo foi o aquecimento da economia, que tem pressionado para maiores importações a fim de suprir a demanda interna. O terceiro foi o efeito das incertezas e perspectivas da economia americana, após a eleição de Trump. Para se ter uma ideia, o Euro também teve desvalorização de cerca de 50% da do Real, no período recente. Os outros dois fatores explicam a outra metade da desvalorização da nossa moeda. Vale observar que uma taxa de câmbio desvalorizada ajuda a competitividade da indústria brasileira. Isso é positivo para a produtividade da economia, pois há mais retornos de escala nesse setor.
Esses dados e análise mostram que a ideia de que há uma desvalorização da taxa de câmbio real efetiva por falta de credibilidade do governo não corresponde à realidade. O que está havendo é uma correção do valor dessa taxa para um nível de longo prazo mais razoável. Ainda falta um longo caminho. Mas o ideal é que essa taxa permaneça nos níveis atuais ou ainda mais desvalorizada. A inflação vai sofrer um pouco, mas dá para aguentar uns meses enquanto há reacomodação de preços relativos. O Banco Central, então, deve aproveitar para reduzir seu excesso de reservas, reduzindo a dívida pública em Reais e, com isso, melhorando o fluxo de caixa do governo federal. Ele já queimou um pouco de reservas, mas ainda dá para queimar muito mais.
Tivemos elevação da taxa de câmbio (R$/US$) nas últimas semanas. Isso fez explodir as afirmações de que isso era uma consequência da falta de credibilidade e má gestão da política fiscal do atual governo. Mas as afirmações são feitas sem que haja uma análise mais acurada. Calculei a taxa de câmbio real efetiva para o período 01/1953 a 12/2024, corrigindo os valores nominais pela inflação do Real, medida pelo IPCA, e do US dólar, medida pelo IPC do Bureau of Labor Statistics (BLS). A série do IPCA foi complementada pela do IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas, para o período anterior a 12/1979. Nessa correção, escolheu-se a média de novembro de 2024 como momento em que a taxa efetiva e a nominal coincidiram. Os números mostram que: (i) a taxa de câmbio atual está abaixo do que ela foi na maioria de nossa história econômica recente (1953-2024). (ii) Ela está abaixo do que foi nos governos militares e de Bolsonaro. (iii) Em momento nenhum entre 1964 e 1985, os militares conseguiram uma taxa de câmbio real efetiva menor do que a mais alta do governo Lula III, até então. (iv) No governo Bolsonaro, a taxa de câmbio efetiva esteve acima de R$ 6,30 por 21 meses. (v) Em dois anos, 2020 e 2021, a média anual foi superior a R$ 6,50, bem acima dos patamares atuais.
Há três fatores que mudaram a taxa de câmbio de equilíbrio no Brasil, recentemente. O primeiro foi a queda da produção agropecuária e redução dos superávits comerciais. O segundo foi o aquecimento da economia, que tem pressionado para maiores importações a fim de suprir a demanda interna. O terceiro foi o efeito das incertezas e perspectivas da economia americana, após a eleição de Trump. Para se ter uma ideia, o Euro também teve desvalorização de cerca de 50% da do Real, no período recente. Os outros dois fatores explicam a outra metade da desvalorização da nossa moeda. Vale observar que uma taxa de câmbio desvalorizada ajuda a competitividade da indústria brasileira. Isso é positivo para a produtividade da economia, pois há mais retornos de escala nesse setor.
Esses dados e análise mostram que a ideia de que há uma desvalorização da taxa de câmbio real efetiva por falta de credibilidade do governo não corresponde à realidade. O que está havendo é uma correção do valor dessa taxa para um nível de longo prazo mais razoável. Ainda falta um longo caminho. Mas o ideal é que essa taxa permaneça nos níveis atuais ou ainda mais desvalorizada. A inflação vai sofrer um pouco, mas dá para aguentar uns meses enquanto há reacomodação de preços relativos. O Banco Central, então, deve aproveitar para reduzir seu excesso de reservas, reduzindo a dívida pública em Reais e, com isso, melhorando o fluxo de caixa do governo federal. Ele já queimou um pouco de reservas, mas ainda dá para queimar muito mais.