55 anos da Paixão de Cristo

Luiz Felipe Moura
Presidente da ABRAJET-PE

Publicação: 25/03/2025 03:00

Há 55 anos Pernambuco criou, mantém e consolida, a cada apresentação, o espetáculo mais eloquente ligado à fé, um evento que se repete há mais de meio século, chamando a atenção do Brasil, quiçá do mundo, para o pequeno município de Brejo da Madre de Deus, no Agreste pernambucano, no que hoje é considerada a maior apresentação teatral a céu aberto do mundo, sempre se renovando de forma criativa, alimentando e reforçando a resiliência através da fé dos que consideram o mais importante exemplo de demonstração de sacrifício, sofrimento e autruismo ao longo dos séculos.

Essa foi a fonte de inspiração do jornalista e diretor teatral, Plínio Pacheco, gaúcho de nascimento, que se apaixonou pela terra dos altos coqueiros, transformando o distrito de Fazenda Nova, durante a Semana Santa, em Nova Jerusalém, projetando Pernambuco como vitrine religiosa e transformando o sonho em realidade, descrita por ele: “Encontrei meu mano sertanejo num pedaço da Judéia encravado no semiárido do Agreste de Pernambuco” (Trecho do discurso proferido por Plínio Pacheco em 1973, em agradecimento ao título de Cidadão Pernambucano).

Entretanto, a grandiosidade e importância do espetáculo da Paixão de Cristo transcende os limites geográficos, atraindo público de todas as regiões, como também dos demais vizinhos, tornando o evento um marco no calendário de eventos religiosos, além de grande contribuição na economia local e dos municípios vizinhos, considerando a distância a ser percorrida até o local do espetáculo, quando as muitas caravanas, além de veículos particulares fazem diversas paradas, a partir de Gravatá, até Caruaru, locais em que os turistas pararam para refeições e compra de lembrancinhas, do artesanato ao cordel, passando pela culinária regional; ou seja: todos ganham, com esse evento que gera renda e inclusão social.

A chegada a Fazenda Nova é o momento de contemplação do sonho idealizado por Plínio Pacheco, que recebe os turistas com uma infinidade de barracas que movimentam o comércio local com todos os tipos de serviços para que todos possam tomar fôlego, preparando-se para o grande e inesquecível momento.

A entrada em Nova Jerusalém é uma viagem no tempo, arquitetura e figurino dos colaboradores remetem ao Império Romano, como se o século presente já não existisse. Tudo transpira religiosidade e fé. O espetáculo fica aquém de qualquer conjunto de palavras que formem as frases justas que possam traduzir com justiça a experiência sensorial de estar lá e vivenciar a grande encenação da Paixão. No início a encenação foi conduzida pelo saudoso José Pimentel e hoje é estrelada pelos atores mais conhecidos do grande público.

Outra característica importante é o aproveitamento de moradores locais que atuam como figurantes no majestoso e imperdível cenário. O sonho de Plínio Pacheco se completa com a Pousada da Paixão, réplica das hospedarias da época, mobiliada com utensílios e tendo as roupas de época à disposição, itens que transportam o hóspede para o cenário de Pilatos.

Mais que um espetáculo, a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém é uma oportunidade de assistir um grandioso espetáculo que provoca a reflexão sobre a essência humana, generosidade, empatia e vontade de contribuir para um mundo melhor, mais justo e com menos desigualdades. É um presente que Plínio Pacheco deixa para a humanidade. E nos últimos 25 anos sob o comando de Robinson Pacheco, presidente da Sociedade Teatral de Fazenda Nova, o espetáculo vem mantendo o alto nível, atraindo sempre milhares de turistas do Brasil e do mundo para a maior encenação religiosa do planeta.