Na labuta, com a toga, quarenta e seis anos e três meses. Duas comarcas, três seções, o tribunal, subdividido em turmas, pleno e seção; no epílogo, o horizonte aumentado de tamanho, não a limitação de uma comarca ou de um estado, mas a presença de uma região formada por seis estados, a se enroupar como a melhor de todas as escolas, as aulas essencialmente práticas nos feitos/recursos que lhes foram distribuídos e nos demais de cujo julgamento participou.

Em cada, independentemente da matéria, o conflito de interesses, o julgador a escolher entre as duas teses, a que lhe parecia mais justa para solucionar o litígio, ouvindo o advogado, de alguns na privacidade do gabinete, como a sustentação na sessão da turma, o advogado na tribuna a verberar a pertinência de sua palavra, conduzindo o seu discurso para o campo que lhe parecia ser o mais seguro possível, e, o julgador, ali, pesando, já com voto pronto, algumas vezes  desprezou seu script, aderindo à sustentação, numa reviravolta que o assustava, por estar convencido de que o caminho da pretensão recursal era a que deveria ser adotado.  

E lá vinham os contatos com os advogados, desde a primeira comarca à última audiência no segundo grau, que não se lembra mais quais foram, as audiências e casamentos realizados, as sessões em dezesseis longos anos. De outro lado, as sentenças lavradas e datilografadas por ele mesmo, os despachos na caneta, feito por feito, o manuseio dos autos visando à lavratura de decisão e de voto, o estudo da peça recursal e seu cotejo com a sentença e prova carreada e produzida, a garimpar fatos, leitura de documentos, tudo para atracar no provimento ou improvimento do apelo, serviço que não tinha dia, nem hora, invadindo os feriados e finais de semana, a fim de evitar que acumulasse e se tornasse inviável, a alegria quando encontrava o caminho a ser seguido e o senso de não ir além das forças físicas e, principalmente, mentais.

A idade colocou o ponto final. Daqui não passa. O decreto de aposentadoria já foi expedido. O liame com a atividade foi cortado. No final, o rápido troféu - que o deixou feliz - por pouco tempo, dos juízes aprovados, no concurso para juiz de direito, em 1978, e para juiz federal, em 1984, foi o último a se retirar do palco. Uns, infelizmente, mortos; aposentados, outros. Na última classe, já se incorporou. Na primeira, não aceita nem conversar. Se benze três vezes.