Do trabalho coletivo à exploração coletiva

Paulo Rocha
Professor e presidente da Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco (CUT-PE)

Publicação: 11/07/2025 03:00

O trabalho tem um papel central na história. Aparentemente simples, o ato de coletar alimentos ou encontrar abrigo envolvia riscos, conhecimentos de gerações passadas e capacidade de construir novos conhecimentos, seja no campo das ciências, tecnologia, da comunicação ou das artes, com várias dessas questões demonstradas através de figuras rupestres.

A partir de meados do século 18 a Revolução Industrial mudou drasticamente a forma do trabalho, diminuiu o peso do artesão e surgiu o trabalho concentrado em fábricas, com produção em massa, salários baixos e extensas jornadas de trabalho, 16 horas por dia, e de domingo a domingo, inclusive para mulheres e crianças, sem direitos trabalhistas. Então, basicamente o fruto do trabalho passou a pertencer aos capitalistas donos das fábricas, os quais para garantir o lucro rápido não hesitaram em manter o operariado sem direitos trabalhistas ou sociais. Com isso, ampliando a concentração de riqueza e a desigualdade social. É nesse contexto que surge o movimento sindical.

Atualmente no mundo ocidental há um ataque ao estado de bem-estar social, com retirada de direitos sociais e trabalhistas, bem como uma profunda transferência de recursos públicos para a iniciativa privada. É nessa direção que a nossa Constituição Federal tem sido dilapidada. Concomitante, há um avanço científico e tecnológico que afeta ao mundo do trabalho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que a inteligência artificial afetará 40% dos empregos em todo o mundo, seja por haver benefícios ou fim de postos de trabalho.

Entretanto, o acúmulo de capital não se dá apenas pela evolução científica e tecnológica, para o capitalista é essencial a precarização do trabalho. Com esse intuito faz lobby nos parlamentos, executivos e judiciário e sua agenda é pautada diuturnamente nas mídias. Assim, por exemplo, foi possível a Reforma Trabalhista do Governo Temer, o que possibilitou a redução dos salários e a precarização. Segundo o instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2017 e 2018 cresceu em 21,7% o número de brasileiros que trabalhavam através de CNPJ.

A pejotização tem burlado a legislação trabalhista ao retirar direitos, inclusive colocando trabalhadores e trabalhadoras fora dos acordos coletivos. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), aponwtam que 93% das pessoas PJ (Pessoa Jurídica) ganham até R$ 6.000,00 e mais da metade recebe até R$ 2.000,00. Estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontam que desde a Reforma Trabalhista os cofres públicos perderam, pelo menos, R$ 89 bilhões, afetando dramaticamente a previdência social. Diante disso, é fundamental que o Supremo Tribunal Federal (STF) mantenha a posição da Justiça do Trabalho frente a essa questão e outras.

Portanto, o mundo do trabalho convive com os avanços da ciência e da tecnologia desde seus primórdios. Já o movimento sindical é resultante dessas transformações e historicamente luta por direitos trabalhistas e superação das desigualdades sociais. Assim, entre outras questões, estamos nas ruas pela redução da jornada de trabalho e fim da escala 6x1, sem redução salarial, e pela taxação das grandes fortunas.