Profissões em transição: o trabalho na era da inteligência artificial

Douglas Ferro
CEO da Dreamind e especialista em IA aplicada a negócios

Publicação: 21/07/2025 03:00

O mercado de trabalho vive uma rápida e profunda transformação. A inteligência artificial (IA), que já deixou de ser tendência para se tornar uma realidade presente em diversos setores, redesenha as bases do que significa trabalhar, produzir e interagir profissionalmente. Mais do que substituir tarefas humanas, a IA impõe uma nova lógica, na qual a capacidade de adaptação se torna tão importante quanto o conhecimento técnico.

Segundo o relatório Futuro dos Empregos 2025, do Fórum Econômico Mundial, 170 milhões de novos empregos surgirão até 2030, enquanto 92 milhões deixarão de existir. As transformações devem afetar cerca de 22% dos postos de trabalho globalmente. No Brasil, estudos da Microsoft e da Edelman mostram que 93% dos líderes já reconhecem a influência da IA sobre suas estratégias organizacionais. No entanto, apenas 27% dos trabalhadores se sentem efetivamente preparados para esse novo cenário.

Essa defasagem é preocupante. A mudança não é apenas tecnológica, mas também cultural. A IA não elimina o papel do ser humano, ela o reposiciona. Em setores como varejo, indústria e finanças, tecnologias como visão computacional, algoritmos de risco e assistentes virtuais já desempenham tarefas que antes dependiam de atenção humana. Isso não significa demissão em massa, mas exige uma revisão urgente das competências valorizadas pelo mercado.

As habilidades que ganham espaço são aquelas que combinam domínio técnico com capacidade analítica, criatividade, pensamento estratégico e inteligência emocional. As funções do futuro exigem fluência em dados, segurança cibernética e, sobretudo, a habilidade de colaborar com tecnologias inteligentes. A IA, por si só, não resolve problemas: ela amplia a capacidade humana de lidar com complexidade. Saber utilizá-la com critério será o diferencial.

É nesse ponto que a qualificação contínua se torna indispensável. Empresas que não investirem em requalificação correm o risco de perder produtividade. Profissionais que não buscarem atualização poderão ficar à margem de um mercado que se transforma em velocidade crescente. Como líderes, é nosso dever criar ambientes que favoreçam o aprendizado permanente, com acesso a conhecimento de qualidade, inclusive em regiões menos desenvolvidas.

Hoje, participo do programa de Inteligência Artificial Generativa do MIT, nos Estados Unidos, onde a discussão sobre o futuro do trabalho gira em torno da mesma questão central: como adaptamos nossas instituições, empresas e sistemas educacionais para acompanhar essa evolução? A resposta não está apenas na tecnologia, mas na forma como a sociedade escolhe integrá-la aos seus valores.

A pergunta não é se a IA vai mudar o trabalho - ela já está mudando. A pergunta é como vamos nos adaptar, e que habilidades queremos desenvolver como indivíduos e como sociedade. A transformação digital precisa ser acompanhada por uma transformação humana. Só assim construiremos um futuro em que a tecnologia amplie oportunidades, em vez de aprofundar desigualdades.