Publicação: 18/02/2014 03:00
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Cruz: pena pode ultrapassar os 36 anos caso seja condenado |
Passados quase 33 anos, um dos episódios mais obscuros do processo de redemocratização do país ganha novos nomes e feições. O Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro concluiu que o frustrado atentado a bomba no Riocentro, no Rio de Janeiro, foi planejado, executado e acobertado por 15 pessoas, todas ligadas ao regime militar, para incriminar movimentos políticos que defendiam o fim da ditadura. Nove morreram e seis foram denunciadas, entre elas o general reformado Newton Cruz. Ele que pode pegar pena superior a 36 anos de prisão, por tentativa dolosa de homicídio duplamente qualificada (motivo torpe e uso de explosivos), associação criminosa armada e transporte de explosivo.
Pelo mesmo crime, foram denunciados o coronel reformado Wilson Machado (conhecido nos porões da ditadura como Doutor Marcos), o ex-delegado Cláudio Antônio Guerra e o general reformado Nilton de Albuquerque Cerqueira. O terceiro general envolvido é Edson Sá Rocha, o Doutor Silvio, denunciado por associação criminosa armada - pode pegar pena de 2 anos e 6 meses de cadeia.
O último nome apontado pelo MPF é o do major reformado Divany Carvalho Barros (vulgo Doutor Áureo). Ele revelou algumas das informações que permitiram aos procuradores remontar o quebra-cabeças do caso. Confessou que foi ao Riocentro logo após a explosão para recolher provas que pudessem incriminar os militares. Ele pegou a agenda de telefones do sargento, uma granada e uma pistola. Por isso, é acusado de fraude processual e pode pegar pelo menos um ano de detenção.
Para os procuradores federais, os crimes foram cometidos após a aprovação da Lei de Anistia e, por isso, os autores não podem ser protegidos pelo texto. O MPF também considera os delitos imprescritíveis.
Novos depoimentos
De acordo com novos depoimentos e informações, levantados nos últimos dois anos, os procuradores concluíram que o atentado, ocorrido na noite de 30 de abril de 1981, véspera do feriado do Dia do Trabalho, foi o revés de uma farsa. A ideia dos militares envolvidos era provocar uma série de explosões no maior centro de convenções carioca - onde 20 mil jovens estavam reunidos em um show de música -, causar mortes e pânico na população e, depois, culpar uma organização de esquerda como autora dos atentados. (Do Correio Braziliense)
Memória
Em 30 de abril de 1981, véspera do Dia do Trabalho, um show reuniu milhares de pessoas no Riocentro, na capital do Rio de Janeiro.
O evento acabou entrando para a história pelo lado trágico, com a explosão de duas bombas no local.
A primeira bomba explodiu dentro de um carro, ferindo o capitão Wilson Luis Chaves Machado e matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário.
A segunda explodiu na casa de força do Riocentro, com o objetivo de cortar a energia, e não deixou
feridos
A ação dos militares pretendia causar pânico e terror na plateia do show e na população, atribuindo falsamente o atentado a uma organização da militância contra o regime de exceção, e assim, justificar um novo endurecimento da ditadura.
Até hoje o atentado não foi totalmente esclarecido