O adeus ao amigo, "tio" e aliado Ariano O presidenciável e ex-governador Eduardo Campos era chamado pelo dramaturgo paraibano como %u201Co meu pai caçula%u201D

Rosália Rangel
rosaliarangel.pe@dabr.com.br

Publicação: 24/07/2014 03:00

Eduardo Campos conversou no hospital com Jarbas Vasconcelos, Lyra e Raul Henry (BERNARDO DANTAS/DP/D.A PRESS)
Eduardo Campos conversou no hospital com Jarbas Vasconcelos, Lyra e Raul Henry
“Passei a ver em Eduardo meu pai caçula”. Ariano Suassuna disse essa frase na edição de junho da Revista Piauí, quando entrevistado em uma matéria sobre Eduardo Campos (PSB). Nas palavras dele é possível perceber o tamanho da amizade que unia os dois. Uma convivência fortalecida pelos laços familiares. A esposa de Eduardo, Renata Campos, é sobrinha de Zélia Suassuna, viúva do dramaturgo. A notícia da internação de Ariano chegou para Eduardo e Renata na noite da última segunda-feira. No momento, eles jantavam com os filhos, em São Paulo, onde estão morando em razão da campanha do socialista à Presidência da República.

A partir daquele momento, o contato passou a ser direto com os parentes. Na terça-feira, Eduardo decidiu retornar à noite para o Recife. Durante o dia, o socialista cumpriu agenda em Marília, Araçatuba e Limeira, cidades do interior de São Paulo. Nos intervalos da agenda, recebia de um assessor as informações sobre o quadro clínico do escritor. Em casa, por telefone, Renata monitorava o quadro de saúde do tio com duas irmãs, que são médicas, e que estiveram com Ariano no hospital todo tempo.

O casal embarcou para Recife, acompanhado dos filhos (Pedro, José e Miguel), às 22h de ontem. A família chegou ao Hospital Português na madrugada de hoje, por volta de 1h40, onde encontraram a esposa, os filhos e netos de Ariano. Eles deixaram o local às 6h e retornaram no final da tarde, momentos antes do anúncio oficial da morte do dramaturgo.

“O Brasil perde a maior expressão da cultura popular brasileira. Nós perdemos um amigo, um conselheiro, uma referência de toda a vida. Mas Ariano deixa um exemplo de dignidade que todos nós brasileiros devemos seguir, de austeridade, de amor ao povo, de amor ao Brasil, de amor à cultura e de amor à ética”, disse Eduardo, visivelmente emocionado.

A presença de Ariano nos eventos políticos do PSB era constante. A última aparição dele foi no dia 17 deste mês, no ato político em favor de Paulo Câmara, candidato do PSB ao governo do estado. Na entrevista à Revista Piauí, ele destacou o início da sua ligação com Eduardo. “Quando conheci Arraes (o ex-governador Miguel Arraes), eu era moço e comecei a ver nele, inconscientemente, a figura de meu pai (João Suassuna). Os dois governadores sertanejos perseguidos. Fui envelhecendo e veio Eduardo, que é como era meu pai, brilhante e jovem”, contou Ariano.

Para acompanhar o velório e enterro do amigo, Eduardo cancelou a viagem que faria hoje ao Acre. O socialista iria proferir uma palestra na 66ª Reunião Anual da SBPC e inaugurar um comitê de campanha. Paulo Câmara também desmarcou os compromissos. Já o candidato do PTB, Armando Monteiro Neto, manteve a plenária ontem com militância do partido, em Olinda, alegando não ter como desmobilizar o grupo.