Propina era paga até em cabaré Ex-chefe do setor responsável pelo pagamento a políticos na Odebrecht diz que os valores em espécie eram entregues nos "lugares mais absurdos"

Publicação: 25/03/2017 03:00

Mônica Moura (à frente) é apontada como operadora das finanças da campanha (RODRIGO FÉLIX LEAL/FUTURA PRESS)
Mônica Moura (à frente) é apontada como operadora das finanças da campanha

Em depoimento à Justiça Eleitoral, o delator da Odebrecht Hilberto Mascarenhas, responsável pelo setor de pagamentos de propina da empresa de 2006 a 2015, relatou que as entregas de dinheiro em espécie aconteciam em “lugares absurdos” e até “cabaré”. Questionado pelo juiz auxiliar da ação que pede a cassação no Tribunal Superior Eleitoral da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer na eleição de 2014 sobre como eram feitos os pagamentos ao marqueteiro João Santana e a esposa dele, Mônica Moura, responsável por operacionalizar as finanças, Hilberto respondeu: “Se fossem valores pequenos encontravam num bar, em todos os lugares. Você não tem ideia dos lugares mais absurdos que se encontra, no cabaré...”.

Para repassar os montantes maiores, no entanto, Hilberto esclarece que Mônica ou um representante dela se hospedava em um hotel onde se encontravam com um intermediário contratado pela Odebrecht que fazia a entrega, mas que não era ligado diretamente à empresa. “Então, você se hospedava no hotel e de noite ele visitava o quarto do interessado, entregava e ia embora, para poder ter mais segurança se fossem valores maiores”, contou.

Relatou ainda que, quando era o principal responsável pelo departamento de Operações Estruturadas, a área do grupo que realizava o pagamento de propinas e caixa 2, preferia pagar tudo fora do Brasil. “Eu dizia: eu prefiro pagar tudo no exterior, que era lá que era feita a geração, eu preferia pagar no exterior. Mas ela (Mônica Moura) exigia que partes fossem pagas no Brasil, justificando que tinha que pagar alguns serviços que eram feitos no Brasil...”

Hilberto relatou ainda que Mônica estaria na lista dos “top five” que recebiam os valores mais elevados de propina da área. Ele estima que tenham sido pagos em torno de US$ 50 milhões e US$ 60 milhões para Mônica, identificada com o codinome “Feira”. O delator disse que foram feitos pagamentos ao casal por campanhas no Brasil de 2010, 2012 e 2014. “Tinha diretores de obras no exterior, diretores que aprovavam indicações, aditivos, etc, que recebiam fortunas também. Com um detalhe, lá eles recebiam para eles, bolso, e aqui muitas vezes era para eleições, campanhas, etc”, narra Mascarenhas, sobre os outros integrantes do topo do ranking de pagamentos da Odebrecht. Ele detalhou no depoimento que os pagamentos a Mônica Moura saíam da conta corrente vinculada ao “Italiano”, apelido que seria para identificar o ex-ministro Antônio Palocci.

A conta era usada na medida em que o partido dele, o PT, necessitasse, segundo o delator. “Existia uma conta corrente onde foi aberto um crédito de X para o ‘Italiano' por ele ter apoiado a empresa em determinada coisa. Aquele dinheiro que tinha aberto crédito não ia para ele, ficava para ele usar na medida em que o partido dele, que era o PT, necessitasse. Então pagar ao marqueteiro da campanha de Dilma é uma necessidade do PT. Então ele autorizava: ‘Preciso pagar dez milhões ao dr. João Santana’. João Santana nunca apareceu, sempre quem aparecia era a dra. Mônica Moura, em quem eu botei o codinome”, descreve Mascarenhas. (Folhapress e Agência Estado)