Carnes podres na merenda escolar Produto era servido em escolas públicas, após licitações serem fraudadas em várias prefeituras em Pernambuco, com a colaboração de servidores

Aline Moura
aline.moura@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 22/07/2017 03:00

Uma quadrilha responsável por fraudes em licitações, que desviou pelo menos R$ 40 milhões dos cofres públicos, começou a ser desmontada em Pernambuco nesta sexta-feira, na segunda fase da Operação Comunheiro. As investigações foram realizadas pela Polícia Civil e envolve empresas e servidores de sete municípios - Recife, Olinda, Itamaracá, São Lourenço da Mata, Paudalho, Carpina e Buenos Aires. Alguns suspeitos dos crimes são agentes públicos da Câmara Municipal de Carpina e da Prefeitura de Buenos Aires, ambos na Mata Norte estadual. Os envolvidos são acusados de oferecer merendas vencidas a crianças depois de ganharem concorrências públicas viciadas. O produto servido nas escolas públicas incluía até carnes podres, segundo o delegado e chefe da Polícia Civil, Joselito Kehrle. A saúde também teria sido uma área prejudicada nas licitações fraudulentas.

Os novos detalhes do caso serão divulgados em coletiva nesta segunda-feira. A Polícia Civil cumpriu sete mandados de prisão, 26 mandatos de busca e apreensão domiciliar e 12 mandatos de condução coercitiva. As empresas envolvidas foram proibidas de contratar com o poder público por meio de ordem judicial.

“A Polícia Civil não compactua com o envolvimento de políticos no desvio de verbas públicas que seriam destinadas a escolas públicas e hospitais públicos. Os presos serão indiciados por associação criminosa, fraude em licitação e lavagem de dinheiro”, disse Joselito. “A gente acredita que o valor seja superior a R$ 40 milhões, porque só uma das empresas faturou R$ 38 milhões em desvios. Eram carnes podres vencidas e fornecidas a crianças em escolas”, acrescentou.

Segundo o delegado, o esquema funcionava da seguinte maneira: as empresas forneciam amostras de bons produtos para o cliente e, no segundo momento, distribuíam alimentos com data de validade ultrapassada. O dinheiro era dividido entre os suspeitos, cerca de 15% para cada empresa. De acordo com Joselito, os empresários faziam acordos entre si. “Cada um devia ganhar uma licitação para que as outras recebessem 15% daquele valor da comercialização”.

O delegado Joselito Kehrle acrescentou que a lavagem de dinheiro era feita na aquisição de veículos. “Apreendemos sete carros de luxo e R$ 60 mil. Em algumas situações, o serviço não era prestado de fato. Em outras, os produtos tinham baixa qualidade”. O chefe de polícia complementou que o vereador de Carpina Tota Barreto (PSB), que é ex-prefeito de Lagoa do Carro e investigado na Operação Fraus - está preso desde o início de junho -, também é suspeito de participar dessas fraudes. Os outros nomes não foram confirmados pela Polícia Civil.