Temer faz balanço de 2 anos em cerimônia esvaziada Para ministros e poucos deputados, o presidente falou que "salvou" a Petrobras do colapso e tirou o país "do vermelho"

Publicação: 16/05/2018 03:00

Em cerimônia esvaziada para comemorar dois anos à frente do governo, o presidente Michel Temer divulgou ontem dados enaltecendo sua gestão, não mencionou denúncias de corrupção que bateram à porta do Palácio do Planalto e disse que conseguiu tirar o país da crise. Diante de uma plateia formada por ministros, ex-ministros e alguns deputados, mas sem a presença dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), Temer afirmou que “salvou” a Petrobras do colapso e pregou a conciliação após as eleições.

“Sem dúvida, creio que todos nós fomos responsáveis por tirar o Brasil do vermelho e colocar o país no rumo certo. Não são palavras apenas. Os fatos comprovam”, afirmou. “Espero que, logo depois das eleições, as pessoas possam pensar nos problemas do país e não em quem ganhou ou perdeu a eleição. (...) Brasileiros não podem ficar contra brasileiros.”

Chamada de “reunião ministerial ampliada”, a solenidade foi planejada por Temer para tentar driblar sua impopularidade com uma prestação de contas na qual os escândalos foram ignorados e muitos dos dados divulgados mostraram-se parciais. Não houve qualquer citação à Lava-Jato. Temer disse apenas, genericamente, que se fala em abuso de autoridade quando se descumpre a Constituição. “Nós não somos autoridade. Quem tem autoridade no país é a lei”, argumentou.

Sem mencionar o impeachment da petista Dilma Rousseff, Temer destacou a melhoria de indicadores econômicos após assumir o poder, citando a queda da inflação para cerca de 3% ao ano e o retorno do crescimento do PIB para uma taxa superior a 2%, prevista para este ano. Fez um discurso de uma hora e foi aplaudido apenas três vezes. Só ele falou. Enquanto fazia seu pronunciamento, um telão exibia um slogan em letras garrafais: “O Brasil voltou”.

20 anos em 2
Criado pelo publicitário Nizan Guanaes, o mote também apareceu na cartilha de 32 páginas distribuída durante a solenidade, com dados sobre as “realizações” do governo de 2016 a 2018. O convite para a cerimônia provocou uma crise no Planalto e teve de ser alterado de última hora. Expedido pelo cerimonial, trazia o slogan “O Brasil voltou, 20 anos em 2”.

O slogan foi considerado desastroso por aliados de Temer porque, sem a vírgula após o verbo, poderia passar a impressão de que o País havia regredido duas décadas sob a gestão do MDB. Para evitar interpretação errônea, a mensagem “20 anos em 2” - que também lembrava o programa de governo de Juscelino Kubistschek (50 anos em 5) - acabou excluída.

A cartilha apresenta dados com recortes favoráveis a Temer. Ao citar o número de contratações, o governo menciona que no trimestre de outubro a dezembro de 2017 “aumentou em 1 milhão e 842 mil o número de pessoas ocupadas em comparação com o mesmo trimestre de 2016”. A soma totaliza 92,1 milhões de pessoas ocupadas. No entanto, a Pnad Contínua do IBGE mostrou em março que o número de pessoas ocupadas caiu para 90,5 milhões no primeiro trimestre de 2018. (AE)

Serviços recuam e ratificam economia lenta

O setor de serviços encolheu 0,2% em março em relação a fevereiro, informou ontem o IBGE, em mais um dado a confirmar que a recuperação da economia perdeu fôlego no primeiro trimestre. O resultado será um menor crescimento econômico, mais próximo de 2,0% do que de 3,0%, como alguns economistas estimavam no fim de 2017.

No início deste ano, a média das projeções de analistas do mercado financeiro apontava para crescimento de 2,69% em 2018, conforme o Boletim Focus, relatório do Banco Central (BC). Na mais recente edição do documento, a média caiu para 2,51%. Na semana passada, o Itaú Unibanco revisou sua projeção para o crescimento de 2018 de 3,0% para 2,0%.

Após a divulgação da produção industrial de março, no último dia 3, o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), rebaixou a projeção de crescimento econômico de 2,6% para 2,4%. A composição dos dados do mercado de trabalho (com destaque para o crescimento das ocupações informais) e o desempenho do setor de serviços (o primeiro trimestre registrou queda de 0,9% ante o quarto trimestre de 2017, como divulgado ontem) são os principais pontos negativos. “O mercado de trabalho está vindo um pouco pior do que a gente imaginava. O dado de renda veio um pouco pior”, disse Silvia, lembrando que fatores que contaram a favor do consumo no ano passado, como a liberação das contas inativas do FGTS e a redução da inflação, não se repetirão.

Na visão do economista sênior do Banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso, os indicadores recentes reforçam que a economia vem se recuperando, mas de forma lenta. “Há alguns meses havia expectativas de alta em torno de 1% para o PIB do primeiro trimestre, e agora estão bem abaixo disso”, disse. (AE)