A hora da verdade para Jair Bolsonaro
Operação Tempus Veritatis mira o ex-presidente, aliados e militares. Segundo a Polícia Federal, cúpula traçou a tentativa de golpe de Estado
Publicação: 09/02/2024 03:00
Na decisão em que autorizou a Operação Tempus Veritatis (que significa “hora da verdade”), deflagrada, ontem, pela Polícia Federal (PF), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), destaca trecho de relatório policial segundo o qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu de um assessor direto uma minuta de decreto “para executar um golpe de Estado”. Em outros pontos, o relatório, citado de forma direta por Moraes, aponta reuniões entre militares de alta patente, da ativa e da reserva, que teriam o objetivo de debater aspectos operacionais do golpe. A PF também indica encontros, no Palácio da Alvorada, com a participação de Bolsonaro, que teriam entre os temas em discussão a adesão de militares a um plano de golpe.
A PF aponta, ao todo, seis núcleos que atuaram na tentativa de golpe de Estado e de ataque ao Estado Democrático de Direito: o de desinformação e ataques ao sistema eleitoral; o de incitação ao golpe entre militares; o de atuação jurídica; o de coordenação de ações de apoio operacional; o de inteligência paralela, e o de oficiais de alta patente que legitimavam todas as ações.
A PF cumpriu 48 mandados, quatro deles de prisão. Entre os investigados estão o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno; o ex-ministro da Casa Civil general Braga Netto e o ex-ministro da Defesa general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.
Também foram alvo o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres e o ex-assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais Filipe Martins, que foi preso em diligência no Paraná.
Pelas as investigações, a minuta de decreto “para executar um golpe de Estado” foi entregue ao ex-presidente em 2022 por Filipe Martins e pelo advogado Amauri Feres Saad, apontado como mentor intelectual.
O texto almejava a prisões de Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, também ministro do STF, e a do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O documento previa a realização de novas eleições, diante do que seriam indícios de fraude nas urnas eletrônicas.
A PF diz que Bolsonaro teria pedido para tirar os nomes de Gilmar e Pacheco. A PF afirma que Moraes “foi monitorado pelos investigados, demonstrando que os atos relacionados à tentativa de Golpe de Estado e Abolição do Estado Democrático de Direito estavam em execução”.
A PF menciona que Martins embarcou para os Estados Unidos junto com Bolsonaro em 30 de dezembro de 2022, no avião presidencial, sem passar por procedimentos migratórios. Ele também teria retornado ao país, meses depois, sem registros, “o que pode indicar que tenha se evadido do país para se furtar de eventuais responsabilizações criminais”, diz.
Ontem, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão no endereço de Bolsonaro, em Angra dos Reis, o seu passaporte foi apreendido. Ele está proibido de manter contato com os demais investigados, inclusive por meio de advogados. Em entrevista à Coluna do Estadão, o ex-presidente questioou a motivação da operação. “O que esses caras querem? Eu não sei. O que eles querem com o partido?”, questionou. “Vamos buscar acesso ao inquérito, do que se trata. Por enquanto é uma incógnita aqui. Não tenho acesso ao que é, qual o motivo da busca e apreensão e o que está sendo investigado”, completou. “Estou sem clima. Estou em casa, não vou pescar, não vou fazer nada”, afirmou à colunista do Estadão Roseann Kennedy.
REUNIÃO
Um dos eventos cruciais para as investigações, conforme a PF, foi uma reunião convocada por Bolsonaro com a alta cúpula do governo federal, em 5 de julho de 2022. No encontro, o então presidente teria cobrado aos presentes que se valessem de seus cargos para disseminar informações falsas sobre supostas fraudes nas eleições. Um vídeo com a gravação da reunião foi encontrado em um dos computadores do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, que fechou acordo de delação premiada com a PF, após ter sido preso nas investigações sobre os atos de 8 de janeiro. “Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a Democracia numa eleição fraudada”, teria insistido Bolsonaro.
Algum tempo depois, o general Augusto Heleno, então ministro-chefe do GSI, menciona uma “virada de mesa” em relação às eleições. “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, disse. A partir dessa reunião, teria se dado uma sequência de eventos para o planejamento do golpe, descritos em mensagens extraídas de celulares de Mauro Cid, nas quais ele assume a tarefa de coordenação na disseminação de ataques à Justiça Eleitoral.
Passada a eleição, com a derrota de Bolsonaro, teria se iniciado a fase de planejamento de uma ação mais efetiva de tropas do Exército. O coronel Bernardo Romão Correia Neto, por exemplo, teria organizado reunião em 28 de novembro, em Brasília, com oficiais que aderiram ao golpe para um planejamento operacional.
Em seguida, Correia Neto envia a Cid minuta de documento, que teria sido redigido na reunião e com o objetivo de pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a aderir ao movimento golpista. Correia Neto foi preso preventivamente ontem. (Da Redação com agências)
A PF aponta, ao todo, seis núcleos que atuaram na tentativa de golpe de Estado e de ataque ao Estado Democrático de Direito: o de desinformação e ataques ao sistema eleitoral; o de incitação ao golpe entre militares; o de atuação jurídica; o de coordenação de ações de apoio operacional; o de inteligência paralela, e o de oficiais de alta patente que legitimavam todas as ações.
A PF cumpriu 48 mandados, quatro deles de prisão. Entre os investigados estão o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno; o ex-ministro da Casa Civil general Braga Netto e o ex-ministro da Defesa general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.
Também foram alvo o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres e o ex-assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais Filipe Martins, que foi preso em diligência no Paraná.
Pelas as investigações, a minuta de decreto “para executar um golpe de Estado” foi entregue ao ex-presidente em 2022 por Filipe Martins e pelo advogado Amauri Feres Saad, apontado como mentor intelectual.
O texto almejava a prisões de Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, também ministro do STF, e a do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O documento previa a realização de novas eleições, diante do que seriam indícios de fraude nas urnas eletrônicas.
A PF diz que Bolsonaro teria pedido para tirar os nomes de Gilmar e Pacheco. A PF afirma que Moraes “foi monitorado pelos investigados, demonstrando que os atos relacionados à tentativa de Golpe de Estado e Abolição do Estado Democrático de Direito estavam em execução”.
A PF menciona que Martins embarcou para os Estados Unidos junto com Bolsonaro em 30 de dezembro de 2022, no avião presidencial, sem passar por procedimentos migratórios. Ele também teria retornado ao país, meses depois, sem registros, “o que pode indicar que tenha se evadido do país para se furtar de eventuais responsabilizações criminais”, diz.
Ontem, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão no endereço de Bolsonaro, em Angra dos Reis, o seu passaporte foi apreendido. Ele está proibido de manter contato com os demais investigados, inclusive por meio de advogados. Em entrevista à Coluna do Estadão, o ex-presidente questioou a motivação da operação. “O que esses caras querem? Eu não sei. O que eles querem com o partido?”, questionou. “Vamos buscar acesso ao inquérito, do que se trata. Por enquanto é uma incógnita aqui. Não tenho acesso ao que é, qual o motivo da busca e apreensão e o que está sendo investigado”, completou. “Estou sem clima. Estou em casa, não vou pescar, não vou fazer nada”, afirmou à colunista do Estadão Roseann Kennedy.
REUNIÃO
Um dos eventos cruciais para as investigações, conforme a PF, foi uma reunião convocada por Bolsonaro com a alta cúpula do governo federal, em 5 de julho de 2022. No encontro, o então presidente teria cobrado aos presentes que se valessem de seus cargos para disseminar informações falsas sobre supostas fraudes nas eleições. Um vídeo com a gravação da reunião foi encontrado em um dos computadores do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, que fechou acordo de delação premiada com a PF, após ter sido preso nas investigações sobre os atos de 8 de janeiro. “Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a Democracia numa eleição fraudada”, teria insistido Bolsonaro.
Algum tempo depois, o general Augusto Heleno, então ministro-chefe do GSI, menciona uma “virada de mesa” em relação às eleições. “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, disse. A partir dessa reunião, teria se dado uma sequência de eventos para o planejamento do golpe, descritos em mensagens extraídas de celulares de Mauro Cid, nas quais ele assume a tarefa de coordenação na disseminação de ataques à Justiça Eleitoral.
Passada a eleição, com a derrota de Bolsonaro, teria se iniciado a fase de planejamento de uma ação mais efetiva de tropas do Exército. O coronel Bernardo Romão Correia Neto, por exemplo, teria organizado reunião em 28 de novembro, em Brasília, com oficiais que aderiram ao golpe para um planejamento operacional.
Em seguida, Correia Neto envia a Cid minuta de documento, que teria sido redigido na reunião e com o objetivo de pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a aderir ao movimento golpista. Correia Neto foi preso preventivamente ontem. (Da Redação com agências)