Nova etapa, água para 8,1 milhões
Em entrevista ao Diario, Lula falou sobre obra da Transposição do São Francisco em Salgueiro. E também sobre política, INSS e popularidade
Publicação: 28/05/2025 03:00
![]() |
A agenda faz parte da iniciativa Caminho das Águas, do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, que desde o dia 25 percorre a trilha da Transposição do Rio São Francisco pelo Sertão nordestino, passando por Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Com a intervenção, a capacidade de bombeamento da estação passará de 24,75 m/s para 49 m/s. Segundo o preseidente Lula, a previsão é que 237 municípios e cerca de 8,1 milhões de cidadãos dos quatro estados sejam beneficiados.
Ele falou ainda sobre temas como a fraude do INSS, o recuo das mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), alta dos preços dos alimentos, a posição do PT no Estado nas eleições de 2026, as relações do Brasil com Estados Unidos e China, e as obras da transposição do Rio São Francisco.
Entrevista - Luiz Inácio Lula da Silva // Presidente da República
Quais estudos atualizados estão apoiando as atuais etapas da obra da Transposição, que garantem que o andamento do projeto não vá prejudicar a saúde do Rio São Francisco?
Estamos trabalhando fortemente pela recuperação de nossos rios. Temos no novo PAC um eixo voltado exclusivamente à revitalização das bacias hidrográficas, com investimento total de R$ 4,7 bilhões em todo o Brasil, incluindo 62 intervenções selecionadas apenas para as bacias do São Francisco e do Parnaíba.
Fico muito tranquilo em relação à saúde do São Francisco, especialmente porque não movemos uma pá de terra em uma obra dessa dimensão sem antes termos passado por um processo muito sério e abrangente de licenciamento ambiental. Nossa legislação é uma das mais exigentes do mundo nesse aspecto, e diversos órgãos de controle são envolvidos na questão. O Velho Chico está tendo nossa atenção, para que chegue com vitalidade às próximas gerações.
Nosso compromisso é garantir que essa água leve vida digna para o povo do Nordeste, sem descuidar do meio ambiente. Um exemplo é a duplicação do bombeamento do Eixo Norte do Projeto de Integração, que é o foco do evento de hoje em Salgueiro, que segue todos os parâmetros e exigências ambientais. Ela vai beneficiar 237 municípios e cerca de 8,1 milhões de pernambucanos, cearenses, paraibanos e potiguares, atendendo aos Ramais do Apodi e do Salgado. Já tem muita gente sendo atendida, e vamos seguir avançando com responsabilidade.
O governo vem enfrentando crises, como a fraude do INSS e o anúncio e o recuo das mudanças do IOF, que contribuem para as turbulências na gestão. Além disso, as últimas pesquisas apontaram a queda de popularidade do Sr. e de seu governo, inclusive no Nordeste. A que o Sr. atribui esse declínio e quais são as estratégias para reconquistar esse eleitorado?
Assumimos em janeiro de 2023 com a missão clara de cumprir o nosso programa de governo, aprovado nas urnas. E é isso que estamos fazendo, com crescimento da economia, aumento da renda e redução da desigualdade.
É certo que vivemos em um tempo de muita disputa, polarização e discursos de ódio, sobretudo nas redes digitais, que muitas vezes funcionam como uma terra sem lei. Os cidadãos são diariamente bombardeados por esse ambiente, que cria uma cortina de fumaça sobre as mudanças concretas que estão acontecendo no país — e isso, naturalmente, acaba pesando na percepção de parte da população.
Mas a verdade é que nunca tivemos tanta gente trabalhando no Brasil: fechamos o ano de 2024 com 103,8 milhões de pessoas ocupadas, um recorde. Em Pernambuco, a renda per capita das famílias cresceu 32,2% acima da inflação desde que assumimos o governo – muito acima da média nacional, que foi de 16,8%. É uma conquista real, que chega à vida das pessoas.
Esses números mostram que o Brasil voltou a crescer – e, mais importante, voltou a crescer para todos, especialmente para quem mais precisa. O que necessitamos fazer agora é conversar ainda mais com a população, rodar o país de ponta a ponta, para mostrar o que está sendo feito, mas também para escutar.
Como o senhor avalia o cenário eleitoral em Pernambuco com a provável disputa entre PSB, de João Campos, e PSD, de Raquel Lyra, pelo governo estadual, já que os dois partidos estão na base do seu governo?. Qual será a posição do PT no estado?
Em primeiro lugar, é importante falar que os eleitores pernambucanos têm sorte de contar com figuras públicas da qualidade de João Campos e de Raquel Lyra. Mais do que ficar imaginando como serão as eleições de 2026, contudo, a minha atenção agora está voltada para cumprir meu papel de governante e fortalecer ainda mais a parceria federativa com o prefeito e a governadora.
Estamos conseguindo resolver questões históricas com o Estado, como indenizar e encontrar opções dignas de moradia para as famílias que vivem nos chamados prédios-caixão. Com a prefeitura de Recife, estamos conseguindo investir de forma muito intensa na infraestrutura urbana e na educação.
Desde o início de 2023, o Minha Casa, Minha Vida já contratou a construção de lares para quase 57 mil famílias no estado. Praticamente dobramos o número de profissionais do Mais Médicos em Pernambuco, que eram 874 em 2022 e hoje são 1.636. Além disso, o estado está cada vez mais industrializado e tecnológico. A Stellantis está fazendo fortes investimentos para a produção de carros híbridos em Goiana, e a Petrobras, no âmbito do PAC, retomou as obras da refinaria Abreu e Lima e os novos investimentos em Suape.
A um ano e meio do fim do mandato e das eleições, como o governo do Sr. planeja enfrentar os principais problemas econômicos que afetam a população, a exemplo do alto preço dos alimentos e da gasolina e os juros? O Sr. chegou a falar em adotar medidas ‘’ mais drásticas’’ na questão da comida cara. O que pode ser feito?
Vamos seguir fortalecendo e ampliando as políticas que já provamos que dão certo, pois não é momento de reinventar a roda. No caso dos alimentos, sabemos que teremos nesse ano uma safra de grãos bem melhor e que o valor do dólar, sob controle, reduz a pressão sobre o preço dos alimentos. O que faremos, nesse caso, é garantir ainda mais e melhores financiamentos para que nossos agricultores possam produzir mais comida, com qualidade e a preços acessíveis.
Queremos a justiça em todas as áreas, a exemplo do acesso ao crédito e à energia.
Depois do Desenrola, que limpou o nome de 15 milhões de pessoas, recentemente lançamos o Crédito do Trabalhador que, em 2 meses, permitiu a mais de 2,1 milhões de pessoas contratarem R$ 11,77 bilhões em empréstimos, muitas vezes saindo de dívidas com juros mais altos.
Na energia, 60 milhões de pessoas do Cadastro Único serão isentas da conta de luz. Em breve, lançaremos um programa para que elas não sejam mais penalizadas com os altos preços do gás de cozinha.
Tudo isso é parte e evolução das políticas que já praticamos. E que seguirão melhorando enquanto eu for presidente.
Depois da aproximação com a China e o anúncio recente dos R$ 27 bilhões em investimento chinês no Brasil, como buscar uma parceria maior com os EUA diante da polarização envolvendo os dois países? Como aproximar as duas economias, do Brasil e EUA, para garantir mercado para o nosso país?
A gente não pode esquecer, em primeiro lugar, que as relações comerciais e econômicas entre o Brasil e os Estados Unidos já são bastante próximas, construídas ao longo de dois séculos. Apenas em 2024, quase 81 bilhões de dólares circularam entre nossos dois países, entre exportações e importações. Muitas cadeias produtivas, como a do aço, estão integradas, com sólidas relações entre as empresas de lá e daqui. E, além disso, os Estados Unidos são grandes investidores no Brasil. É por isso que, mesmo com as incertezas sobre as tarifas, seguiremos apostando no diálogo e em trazer a razão à mesa, sem nunca perder a altivez e podendo recorrer à Organização Mundial do Comércio ou aplicar políticas de reciprocidade se for necessário.
Já a China é o principal mercado para nossas exportações e o maior fornecedor daquilo que importamos. E as reuniões que tivemos em Pequim há poucos dias resultaram em volumes inéditos de investimentos e confirmaram que nossas relações estão cada vez mais estratégicas.
O fato é que, seja com os Estados Unidos, com a China, a Europa, os países africanos ou os vizinhos sul-americanos, a palavra de ordem de nosso governo é uma só: aumentar o comércio, vender mais, comprar mais, atrair e gerar investimentos. Em dois anos, já abrimos mais de 362 mercados ao redor de todo o mundo para o nosso agronegócio. Essa postura de independência e de busca de um mundo mais equilibrado é uma marca de nossa diplomacia e de nosso comércio exterior. E deve se tornar cada vez mais forte.