Ida do Brasil à OMC é estratégia para diálogo Segundo especialistas, país usa possível autorização do órgão internacional de retaliar os EUA para seguir em busca de uma revisão das tarifas impostas ao país

Mariana de Sousa

Publicação: 25/07/2025 03:00

Governo Lula busca tratar questão no contexto mundial (RICARDO STUCKERT/PR)
Governo Lula busca tratar questão no contexto mundial
Acompanhado de aproximadamente de 40 países e blocos econômicos, a delegação brasileira se posicionou diplomaticamente, na última quarta-feira (23), durante a reunião do Conselho Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, na Suíça, contra a taxa de 50% imposta ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo especialistas, recorrer ao órgão internacional é parte da estratégia de diálogo com os norte-americanos.

“Desde o início, o governo brasileiro procurou mostrar que não era uma decisão unilateral. Quando recorre à OMC, é numa tentativa de não tratar de uma forma isolada, que pareça que é uma questão do Brasil. Eles expõem a questão brasileira dentro de um contexto que é mundial e que tem afetado a relação dos Estados Unidos com o restante do mundo também”, explica a cientista política, Priscila Lapa.

De acordo com o professor de economia e finanças da UFRPE, Luiz Maia, a partir do momento que o Brasil entrar formalmente com uma ação junto à OMC contra as medidas impostas, o órgão poderá “condenar o país norte-americano” e “autorizar o Brasil a retaliar, com alguma outra medida que vá contra os interesses dos Estados Unidos”.

“No passado, quando os Estados Unidos tiveram práticas protecionistas contra produtos brasileiros, o Brasil também chegou a acionar os mecanismos de proteção e defesa da concorrência da OMC, venceu e ganhou o direito de retaliar os Estados Unidos”, disse.

No entanto, na prática, o Brasil não tem o histórico de aplicar a retaliação permitida pela OMC, mas sim, usa como “estratégia de negociação”, segundo o especialista. Ainda segundo Maia, a imagem do país norte-americano sairia prejudicada com a repercussão da ação do Brasil, que, em contrapartida, não teria benefícios expressivos. 

“Do ponto de vista dos seus interesses comerciais, o Brasil não ganha muito. Mesmo recebendo um direito de retaliar, deve pensar duas vezes se vai fazê-lo. Os Estados Unidos têm um poder muito maior e se o Brasil retaliar, nada impede os Estados Unidos de dobrar o volume de sanções”, avaliou Maia.

Para Lapa, o caminho do diálogo é a atitude mais assertiva a continuar sendo estabelecida pelo governo Lula. Não apenas pela via do governo, mas também com o setor produtivo.