Polarização social como estratégia para as eleições
Ao Diario, cientistas políticos avaliam os possíveis impactos eleitorais dos embates entre Legislativo e Executivo e as estratégias que podem ser usadas
Guilherme Anjos
Publicação: 07/07/2025 03:00
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Para Paulo Ramirez, restante do mandato de Lula é "ano perdido" e foco é na popularidade |
Diante da oposição incapacitante que o Executivo vem sofrendo no Congresso, cientistas políticos avaliam que o presidente Lula tem utilizado do momento de fragilidade para aderir a pautas sociais visando recuperar popularidade e impedir o avanço da direita no Legislativo nas eleições de 2026.
Desde o veto ao aumento do IOF, o petista e seu grupo político tem movimentado as ruas e as redes sociais com discursos de “pobres x super ricos”, e “nós contra eles”, se apropriando da desigualdade de tributação entre a classe alta e as demais camadas da população brasileira.
Na avaliação do cientista político Alex Ribeiro, mais do que antecipar o pleito, Lula ainda tenta preservar a governabilidade no atual mandato, enfrentando um Congresso com uma postura cada vez mais adversária. A falta de uma liderança governista convincente pode ser a raiz do problema.
“Uma base aliada formal não é o bastante. Sem uma articulação estratégica e uma liderança eficaz na Câmara, a agenda presidencial corre o risco de estagnar, e sucessivas derrotas legislativas podem desgastar o governo e sua capacidade de governar”, afirmou.
Com a crise entre os poderes, resta ao presidente recorrer ao povo. “A volta do discurso ‘nós contra eles’ do PT é uma tentativa de preservar um protagonismo político, movimentar a base e expandir o discurso. Antes de afirmar que é uma antecipação do conflito político visando as eleições de 2026, Lula tenta ter como principal objetivo garantir estabilidade até o fim do mandato”, analisou.
Já para o cientista político Paulo Ramirez, o restante do mandato de Lula é um “ano perdido” e o foco é melhorar a popularidade da gestão e barrar a formação de um Congresso ainda mais conservador em 2026. “O que Lula está fazendo é visando as eleições do próximo ano. A ingovernabilidade já está no ar, o que a gente chama de paralisia decisória. Temos oito ou nove meses até o período em que os políticos tendem a sair dos seus cargos para as eleições. O tempo político se esgotou. A única alternativa de Lula é promover mais críticas a este grupo e buscar a reeleição”, explicou.
Ramirez compara a atual estratégia de Lula a do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que enfrentou críticas, mas mobilizou a população e conseguiu aprovar as reformas fiscal e trabalhista. “Lula tenta seguir mais ou menos esse padrão, colocando a mobilização das ruas, fazendo críticas à oposição, porque quanto mais pressionado fica o Congresso, obviamente que acabam aderindo a certas pressões populares”, finalizou.
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