Diario esportivo

fred figueiroa
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diariodepernambuco.com.br

Publicação: 08/07/2014 03:00

Pesos pesados

Pela primeira vez nesta Copa do Mundo, o Brasil enrará em campo sem trazer nos ombros as toneladas da obrigação da vitória. E é preciso deixar claro que obrigação pesa mais do que o favoritismo. Ela está diretamente relacionada com o impacto da derrota. Neste caso,  tragédia nacional. Uma responsabilidade que pesa e interfere muito no comportamento dos jogadores. Diante da Alemanha, enfim a carga emocional será igualmente dividida. E já seria assim independentemente da lesão de Neymar.

Desta vez - diferente do que aconteceu contra os franco-atiradores Chile e Colômbia - há muito em jogo também do outro lado. Inclusive as cicatrizes (ou seriam feridas ainda abertas?) das eliminações nas semifinais das duas últimas copas. Em 2010, quando tinham o favoritismo diante da Espanha. Em 2006, dentro de casa. Ou seja, parte dessa geração alemã já viveu o trauma que os brasileiros temem. Depois da eliminação para a Itália nos pênaltis foram aplaudidos de pé pelos torcedores. Havia uma espécie de conscientização nacional de que era apenas o início de uma história e que aquela geração estava sendo preparada para a conquista de um título mundial. Na África do Sul, fracassaram. Agora, no Brasil - e tendo que passar pelo Brasil - terão a última chance.

Considerando apenas o aspecto psicológico, esta partida já se anunciava desde a definição dos grupos como a única opção de confronto em que uma eventual eliminação do Brasil não seria tratada como uma humilhação ou mesmo uma tragédia nacional. Cair diante de seleções de menor porte (como Chile e Colômbia), dentro de casa, aí sim seria imperdoável. Caso a França tivesse vencido a Alemanha, a eliminação diante dos velhos algozes também não seria digerida. E, claro, uma derrota diante de qualquer adversário na grande e sonhada final também será eternizada como uma tragédia. O segundo Maracanazo.

Hoje, no entanto, não me surpreenderia ver os jogadores deixando o gramado do Mineirão sob aplausos depois de uma derrota para um rival do mesmo porte histórico e que, indiscutivelmente, teve uma preparação muito mais sólida para disputar e vencer a Copa. O mesmo reconhecimento que existiu na Alemanha em 2006 caberia ao Brasil de 2014.

Mas esta cena hipotética é apenas uma das muitas possibilidades para o clássico de hoje. Brasil e Alemanha se enfrentam em condições de plena igualdade. Das alternativas para a recomposição da Seleção sem Neymar, Felipão escolheu a mais simples e segura. Talvez houvessem saídas melhores, porém o tempo curtíssimo entre uma partida e outra não permitiria mudanças drásticas. Assim, o técnico encontrou o caminho certo. O meio-campo fortalecido com três volantes (Luís Gustavo, Fernandinho e Paulinho) não é necessariamente uma opção defensiva. E um indicativo para isso é justamente o retorno de Daniel Alves na lateral direita. Ele e Marcelo terão mais liberdade para atacar e explorar aquele que é considerado o ponto de maior vulnerabilidade do time de Joachim Löw.

Pela postura apresentada nos últimos jogos - sobretudo nos momentos mais delicados contra o Chile - caberá a Hulk o protagonismo ofensivo que se esperava de Neymar. E foi exatamente o que ele fez mesmo com o camisa 10 em campo nas oitavas de final. Hoje Hulk será mais atacante do que vinha sendo desde a Copa das Confederações do ano passado. Para que o paraibano faça a sua parte é esperada também uma postura mais participativa de Fred.

Gana e Argélia, que empataram no tempo normal com a Alemanha nesta Copa, tiveram uma postura tática parecida com a que o Felipão está armando. A marcação forte no meio-campo somada a uma ampla movimentação ofensiva incomodaram a seleção de Low. O que faltou aos times africanos para ir além do empate, sobra no Brasil. Qualidade técnica, experiência e, sobretudo, capacidade de decisão. Ou, como dizem, camisa.