O temor de 2018 Rússia não deve enfrentar problemas de infraestrutura para organizar o Mundial. A questão lá é pior: homofobia, xenofobia e racismo

Rafael Brasileiro e Emanuel Leite Jr.

Publicação: 20/07/2014 03:00

Yaya Touré no centro da festa de um dos gols da vitória do Manchester City por 2 a 1, sobre o CSKA, em Moscou. Meia marfinense foi alvo de manifestações preconceituosas (ALEXANDER NEMENOV/AFP)
Yaya Touré no centro da festa de um dos gols da vitória do Manchester City por 2 a 1, sobre o CSKA, em Moscou. Meia marfinense foi alvo de manifestações preconceituosas

Enquanto Dilma Rousseff entregava a taça de campeão no Maracanã, no último domingo, o próximo anfitrião da Copa observava, da tribuna de honra, e já se imaginava realizando o mesmo gesto em 2018 no estádio Lujniki, diante de 90 mil pessoas. Ao contrário da presidente do Brasil, Vladimir Putin não deve se preocupar com atraso de obras, construção de estádios e infraestrutura para receber os turistas. O temor é outro. O medo é que o preconceito incrustado na sociedade atrapalhe a festa da Copa do Mundo. Que ao invés da receptividade encontrada no Brasil, os fãs de futebol se deparem com a homofobia, xenofobia e racismo.


O preconceito contra os homossexuais e o sentimento de superioridade em relação a outras nações são preocupações que serão debatidas até o pontapé inicial. Os casos de racismo, recorrentes em território russo, despontam com mais urgência. Já estão na mira da Uefa e Fifa. Principalmente após o caso de outubro de 2013. O Manchester City visitava o CSKA em partida da Liga dos Campeões da Europa. O capitão dos ingleses era o marfinense Yaya Touré. Bastava o volante tocar na bola que as ofensas racistas ecoavam pelo estádio. Touré fez o juiz parar a partida e pediu uma providência. Inútil. Contudo,a revolta do meio-campista não ficou apenas no gramado.

Boicote
Em entrevista coletiva, Touré foi polêmico e direto. Prometeu organizar um boicote dos jogadores negros à Copa de 2018 caso a situação não mude. “Se não nos sentirmos confiantes, não vamos vir para a Copa do Mundo da Rússia”, disparou após a partida ainda lembrando que a luta não poder acabar. “Sei que estamos lutando contra o racismo, mas não somos crianças e precisamos que isso acabe imediatamente. A Uefa tem que reagir”, completou.

A punição sofrida pelo CSKA corrobora com o pensamento de Touré, já que o clube apenas teve que fechar parte do estádio durante outro compromisso da Champions League como pena pelo caso de racismo. Ou seja, irrisório para um crime considerado tão grave nas notas oficias que a Fifa divulga.