Diario esportivo

por Fred Figueiroa
Twitter: @fredfigueiroa
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Publicação: 03/01/2017 03:00

Linha reta

Ainda que o calendário seja cíclico, o futebol se desenvolve em uma infinita linha reta. Nenhum clube se desprende da sua história e do seu passado. Muito menos o recente. Cada temporada finalizada é um novo capítulo somado e a passagem do ano não “zera” o processo. Longe disso. As consequências técnicas, estruturais e financeiras de uma temporada  incidem diretamente na seguinte. E é justamente este momento que os clubes atravessam agora na primeira semana de 2017. Uma complicada faixa de transição que traz uma missão comum aos clubes do Recife: Como equalizar a necessária redução do orçamento com a necessidade de qualificar o elenco diante de um mercado extremamente difícil e competivivo?

Ainda que seja um desafio comum (não só aos clubes do Recife, como a 90% do futebol nacional), ele se reflete em intensidades completamente distintas para Santa , Náutico e Sport. Afinal, cada um tem a sua realidade técnica, financeira e estrutural e - logicamente - trabalha dentro dela. São três pesos e três medidas.

Santa Cruz
É, sem dúvida, a situação mais crítica. Primeiro, por não ter tido o mínimo poder de escolha diante da ação do mercado em relação ao seu elenco de 2016. Todos os jogadores que tiveram um mínimo destaque se foram - deixando um cenário de terra arrasada no Arruda. Se contratar reforços pontuais já está complicado, imagina reconstruir um elenco inteiro. E, para complicar, o clube entrou em 2017 com um pesado passivo de 2016, que só agora começa a ser reduzido com a liberação de cotas que estavam bloquadas na Justiça. Mas o buraco é muito maior. Sair dele parece um plano irreal neste momento. Contorná-lo é o objetivo real.

E, em uma primeira análise, diria que a direção tem feito escolhas interessantes. A começar pelo goleiro Júlio César. Era a melhor opção disponível no mercado da Série B para repor a saída de Tiago Cardoso. Tecnicamente, aliás, considero até Júlio melhor. E, principalmente, atravessando um melhor momento. O zagueiro Bruno Silva foi bem pinçado do Oeste. Fez um belo Campeonato Paulista pelo Audax e foi regular na Série B. O atacante William Barbio, confirmado ontem, também é uma boa opção - ainda que venha enfrentando uma série de problemas físicos. Quanto às renovações,  Thiago Costa é a única positiva. Danny Moraes foi aceitável. Quanto a Vitor, uma insistência inexplicável.

Náutico
Depois da fatídica derrota para o Oeste, a direção alvirrubra anunciou aos quatro ventos uma enorme reformulação no elenco. E ela aconteceu em ampla escala, de fato. Analisando de fora - excluindo assim questões internas que acabaram sendo preponderantes - diria que as saídas ficaram quase de bom tamanho. A exceção está na defesa, que havia terminado 2016 com uma boa dupla de zaga formada por Rafael Pereira e Igor Rabelo. A intenção alvirrubra era manter apenas o segundo, que acabou voltando para o Botafogo.  A reposição no setor não foi à altura. Páscoa fez uma Série B de mediana para fraca no Ceará. Tiago Alves praticamente não jogou em 2016 e Nirley fez só 11 partidas pelo Figueirense, sendo muito contestado.

O meio de campo será a base para reconstrução alvirrubra, com as permanências de João Ananias, Rodrigo Souza, Maylson e Marco Antônio.  Todos com mais pontos positivos que negativos (apesar da drástica queda de rendimento de Rodrigo). No ataque - pior setor do time em 2016 - era necessária uma reconstrução. Com recursos financeiros limitados, a sensação é de trocar seis por meia dúzia. Ou nem isso - já que Rony era o destaque do time e deixou o clube.

Sport
O primeiro e, até aqui, único passo dado pela direção do Sport foi extrair 2016 do elenco. De todos os jogadores contratados no início do ano passado, só Lenis permanece. E muito mais por falta de opção diante do peso do investimento (acima de R$ 3 milhões). O colombiano terá uma 2ª chance. E é uma decisão correta. No mais, o clube praticamente deletou 2016 e voltou ao cenário do fim de 2015. A maior diferença é a garantia de ter Diego Souza (com contrato renovado até o fim de 2018) desde o começo da temporada. Peças fundamentais trazidas no meio do ano, Ronaldo Alves e Rogério também ficam como saldo positivo. Além do amadurecimento de Everton Felipe.

Agora resta saber o destino de Rithely (maior alvo do mercado, porém com multa acima de R$ 50 milhões) e Samuel Xavier. Este último perto de uma negociação com o Palmeiras que pode trazer Arouca e Rafael Marques para o Leão. Uma troca que parece positiva.