Diario esportivo

por Fred Figueiroa
Twitter: @fredfigueiroa
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Publicação: 02/05/2017 03:00

O milagre tricolor

A vitória do Santa Cruz sobre o Sport na Ilha do Retiro, sábado passado, aconteceu no dia seguinte ao encerramento do prazo para os clubes brasileiros publicarem os balanços das suas movimentações financeiras em 2016. E o resultado dentro de campo – que deixou o atual campeão em considerável vantagem na disputa por uma vaga na final da Copa do Nordeste – é mais um capítulo do que poderia muito bem ser definido como a era do “Milagre Tricolor”. Impressionante os resultados obtidos pelo clube nesta década em meio a um cenário de escassez de recursos, quase sempre beirando o caos financeiro.

Baixa captação de recursos

Na temporada passada, quando foi campeão do Nordeste e disputou a Série A, o Santa Cruz teve uma receita total de R$ 36,8 milhões. A maior da história do clube – mas, ainda assim, muito abaixo da expectativa. Em uma comparação com o Náutico, que também não possui um contrato fixo com a TV Globo, o clube alvirrubro arrecadou R$ 41 milhões em 2012 e R$ 48 milhões em 2013 – últimos anos em que disputou a principal divisão do futebol nacional. O cálculo de 2013 inclui o dinheiro recebido da Arena de Pernambuco e distorce um pouco a comparação. Mas, ainda assim, a receita do Náutico em 2012 ficou mais de R$ 4 milhões acima da do Santa no ano passado. O que mostra a dificuldade tricolor na captação de recursos – mesmo quando atravessava um grande momento.

O retrato do abismo...

Existem várias possibilidades de recorte para expor a escassez financeira do Santa Cruz – mas um deles talvez consiga resumir os dois aspectos em discussão neste texto: Entre 2011 e 2016, todas as receitas somadas do Santa Cruz chegam a R$ 115 milhões. Um valor abaixo da receita do Sport apenas na temporada passada (R$ 129 milhões). Uma diferença que, por mais gigantesca que seja, não se reflete quando traçamos a comparação direta dos dois rivais.

...e a inversão do abismo

Em seis anos, foram sete confrontos eliminatórios (valendo títulos ou vagas nas fases seguintes das competições) e o Santa Cruz venceu cinco: As finais dos estaduais de 2011, 2012, 2013 e 2016 – além da disputa por uma vaga nas oitavas de final da Sul-americana do ano passado. Detalhe é que as duas séries vencidas pelo Sport foram no mesmo ano: 2014 (semifinais do Pernambucano e Copa do Nordeste). Em termos de títulos, o placar é 6 x 2 para o Tricolor – sem incluir nesta conta o Campeonato Brasileiro da Série C, já que é uma competição de divisão inferior nunca disputada pelo rubro-negro.

O reflexo em 2017

Esses números deixam claro que o Santa Cruz encontrou uma fórmula para fazer futebol com um mínimo investimento - conseguindo uma rara estabilidade e, sobretudo, um alto grau de confiança e maturidade nas decisões. Talvez essas características – que passam diretamente pelo trabalho da direção de futebol – ajudem a explicar (e entender) a postura das duas equipes no último sábado. Enquanto o Sport desperdiçou seu maior potencial técnica com uma visível afobação ofensiva, o Santa teve uma atuação fria, procurando manter-se equilibrado no jogo para aproveitar as brechas que o instável adversário daria. Um roteiro repetido que caminha para o mesmo final dos últimos seis anos.

Metade cheio ou metade vazio?

No fim das contas este é um texto ao melhor estilo “copo metade cheio ou metade vazio”. Apesar dos títulos, o Santa Cruz andou apenas de lado nos últimos seis anos. Não conseguiu evoluir estruturalmente e muito menos alcançar uma condição financeira mínima que permita projetar passos maiores. O efeito “estadual” esfriou depois do tricampeonato em 2013 e a torcida já não responde como nos primeiros anos deste recorte em questão. Na atual estrutura do futebol brasileiro só existe uma porta aberta para mudar este cenário: A regularidade na Série A. E aí a “fórmula mágica” do Santa não surte efeito. Falta investimento, estrutura e regularidade até por parte da torcida.