Diario esportivo

por Fred Figueiroa

Publicação: 01/03/2018 03:00

Um péssimo exemplo

O julgamento realizado na noite da última terça-feira no TJD, em Salvador, deixou um resultado questionável diante de tudo o que aconteceu no fatídico clássico entre Bahia e Vitória - disputado no dia 18 de fevereiro - com fortes cenas de violência dentro de campo e que sequer terminou já que o rubro-negro teve cinco expulsões de jogadores que estavam em campo, obrigando o árbitro a encerrar a partida. O placar momentâneo de 1 a 1 foi substituído pelo 3 a 0 para o Tricolor - como prevê o regulamento geral do futebol brasileiro. A maior punição foi aplicada ao zagueiro Kanu, do Vitória, que acertou dois murros no rosto de Vinícius (em imagens claras que rodaram o país) e, dias depois, estava posando para fotos e vídeos fazendo pose de pugilista ao lado de torcedoras. Uma conduta lamentável dentro e fora de campo. A pena foi de 10 jogos de suspensão. A quantidade até seria relevante não fosse o fato de valer apenas para o Estadual. Ontem à noite, em Bragança, Kanu atuou normalmente contra o Bragantino, pela Copa do Brasil, como se nada tivesse acontecido.  Difícil digerir.

As punições aos jogadores
Além de Kanu, outros cinco jogadores foram punidos por agressão e suspensos por oito partidas: Denilson, Rhayner e Yago (Vitória) e Edson e Rodrigo Becão (Bahia). Como restam apenas seis rodadas para o fim do Campeonato Baiano - já incluindo as semifinais e finais - em tese todos estão fora da competição. Em tese. Porque os clubes ainda podem recorrer da decisão no pleno do mesmo TJD/BA, e até o novo julgamento, utilizarem um efeito suspensivo. O que, convenhamos, deve acontecer. Além dos agressores (todos tinham vídeos comprovando), o meia tricolor Vinícius foi suspenso por duas partidas por ter provocado a torcida rival com a dança de comemoração do seu gol e, também foi levado em conta, um post que havia publicado nas redes sociais com fortes provocações. Na minha visão, inclusive, o post foi mais grave que a dancinha. Afinal, é a mesma que o jogador repete em todas as suas comemorações. Seja contra o Vitória ou o Jequié. Tudo bem que, no clássico, ele o fez em frente aos torcedores rivais. Cabe sim a interpretação de provocação. Mas, no máximo, para um cartão amarelo. Na partida, ele foi expulso.

Justiça sem fazer justiça
Além do julgamento sobre as cenas de violência, o tribunal também julgou a denúncia de que o Vitória - a partir de orientações de dirigentes e do técnico Vágner Mancini - forçou a quinta expulsão para que o jogo não continuasse. Desde a transmissão ao vivo da partida, os repórteres do PFC no gramado relataram passo a passo essa “movimentação” por parte de um dirigente, do técnico Mancini e dos jogadores. Mas, fundamentalmente, existem imagens que deixam clara esta orientação. Vários especialistas foram procurados para fazer a leitura labial do que o treinador passou para o jogador Ramon à beira do gramado. E todos - com maior ou menor detalhamento - afirmam que Mancini pediu para o zagueiro Bruno Bispo forçar o segundo cartão amarelo. Na cena em que o jogador chuta a bola na frente do árbitro, ainda aparece a imagem de companheiros de time cobrando o cartão, aplaudindo a decisão do árbitro e fazendo gestos de que o jogo acabou. No entanto, o TJD não reconheceu essas avaliações por não terem sido oficialmente solicitadas pela promotoria. Assim, inocentou Mancini, os dirigentes e a a instituição Vitória. É quando a Justiça encontra brechas em suas próprias regras para não fazer justiça.

O saldo final
Se o Vitória fosse considerado “culpado”, poderia ser excluído e, consequentemente, rebaixado no Campeonato Baiano - punições previstas no Artigo 205 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) e no Artigo 69 do Código Disciplinar da Fifa. Acabou absolvido e - contraditoriamente - multado em R$ 100 mil. O diretor jurídico do clube, Roberto Dantas, inclusive, já avisou que vai recorrer dessa pena, já que - se foi absolvido - não deveria pagar nada. Sobre a punição aos jogadores, considerou que eles mereceram, mas discordou da quantidade de jogos. No discurso, fica claro que o Vitória celebrou o resultado do julgamento. Enquanto do outro lado, no Bahia, já se cogita a saída do Estadual - possivelmente utilizando uma equipe Sub 20 nos jogos que restam. De uma forma ou de outra, o maior prejudicado foi o Campeonato Baiano (tão combalido quanto o nosso) - que perdeu em credibilidade com um julgamento oco, e mesmo assim, ainda viu seus dois principais clubes serem desconfigurados tecnicamente. Dificilmente o Estadual deste ano terá um desfecho nobre. E o exemplo da Bahia precisa urgentemente servir de reflexão para o futebol brasileiro, sobretudo em torno das penas para atos de violência extrema - que não podem ser restritas ao estado. É fundamental uma integração nacional para julgamentos desta natureza.  Só desta forma os jogadores terão outro tipo de conduta.