Dois clubes dentro da Ilha Sport terá, na próxima semana, uma reunião do Conselho Deliberativo crucial para o Leão

Brenno Costa
esportes.pe@dabr.com.br

Publicação: 21/04/2018 03:00

Dia 24 de abril. Terça-feira, 20h. Data da próxima reunião do Conselho Deliberativo do Sport. O encontro está cercado de expectativas por parte dos rubro-negros. Nele, o presidente Arnaldo Barros apresentará os dados do balanço financeiro de 2017. Números que, antecipadamente, já se sabe que serão negativos. Ao gestor, caberá dar as explicações em um momento em que os bastidores do Leão estão em ebulição. Procurado pela reportagem através da assessoria de imprensa, o gestor preferiu não dar declarações sobre o tema.

Tudo começa com o futebol. Depois de temporadas investindo alto na tentativa de alcançar os principais clubes do Brasil, o Sport passou a conviver com a decepção ainda em 2016, quando brigou para não ser rebaixado na Série A até a última rodada. Mas, no fim daquela temporada, os sócios deram um voto de confiança e elegeram como presidente Arnaldo Barros, indicado por João Humberto Martorelli - que deixaria o mandato.

Ao assumir o cargo, Arnaldo passou a comandar mudanças no clube. Alegando ser uma competição deficitária, retirou o Sport da Copa do Nordeste, no primeiro ato que gerou resistência na torcida. Em seguida, a conquista do Campeonato Pernambucano amenizou a turbulência. Mas, depois do Estadual, vieram os insucessos. O Rubro-negro foi eliminado nas Copas do Brasil e Sul-Americana. Já na Série A de 2017, após terminar o primeiro turno em sexto lugar, precisou vencer na última rodada para evitar um rebaixamento. Naquele momento, não havia registros públicos de atrasos no salário. Mas, antes mesmo da virada de temporada, o cenário mudou. Na reta final do Brasileiro, começaram os primeiros atrasos.

O Sport começou 2018 com questionamentos sobre dívidas, saídas das principais estrelas e processos judiciais. O clube, por exemplo, foi acionado por não ter pago a compra de 50% dos direitos econômicos de Rithely, ainda no ano passado. Nesta semana, o Atlético-MG ganhou uma causa, que ainda cabe recurso, pelo não-pagamento de R$ 1,3 milhão dos 20% dos direitos econômicos do atacante André junto ao Atlético-MG.

Em campo,após apostar na volta de Nelsinho Batista, o Sport reformulou o elenco e trouxe atletas com salários mais baixos e com menos peso no cenário nacional. O resultado, até o momento, não veio. Além de não chegar à final do Estadual, acabou eliminado pelo Ferroviário-CE na Copa do Brasil e fez uma estreia ruim na Série A, perdendo por 3 a 0 para  América-MG.

Os insucessos começaram a se converter em uma chuva de críticas. Parecem até se sobrepor a realizações positivas, como a profissionalização do clube em vários setores. Sócios estão se manifestando para reunir 500 assinaturas e convocar uma assembleia geral para pedir impeachment. Ex-presidentes começaram a elaborar uma proposta para acompanhar os gastos do clube. Agora, em ebulição, a Ilha do Retiro aguarda a apresentação do balanço financeiro.
 
O balanço financeiro de 2017*
  • R$ 9.073.021,30 débito com impostos
  • R$ 18.313.641,14 de déficit
  • R$ 123.785.387,00 de gastos
  • R$ 105.471.746,00 de arrecadação
*confirmados pelo presidente do Conselho Deliberativo, Homero Lacerda
 
O que dizem os críticos
 
Wanderson Lacerda, ex-presidente


O presidente
“Arnaldo é uma pessoa do bem. Mas o meu entendimento é que Arnaldo se afastou das lideranças do clube por influência de alguém. Esse pecado ele cometeu. Não é um pecado mortal. É um pecado original. Ele tem culpa porque não é um menino. Ele é de maior e sabe o que tem na cabeça. Porém, tenho certeza absoluta que ele foi influenciado. Infelizmente, as influências levaram ele para uma situação negativa para o Sport a nível nacional”.

Candidato
“Eu quero dizer que você pode escrever em negrito: essa possibilidade é zero. Não temos nenhum pensamento sobre eleição no Sport nesse momento. O que a gente pensa é que a nossa obrigação em levar ao presidente soluções para o clube. Se fosse, estaríamos com o palanque montado. Quem vai ser candidato ou não, no momento próprio, isso vai acontecer. Tenha certeza. Enquanto não for aberto o processo sucessório, nós não teremos mobilização neste sentido.”

Aceitaria ajudar
“Isso é uma pergunta abstrata. Só gosto de responder no concreto. A nossa obrigação é levar sugestões para salvar o clube. Se vou para uma reunião, pensando em cargo, não estou lá para ajudar o clube. Houve algumas pessoas que foram indicadas, anteriormente, mas foram vetadas. Então, prefiro não falar sobre isso. Só posso tratar novamente na hora que houver uma posição concreta.”

Homero Lacerda, presidente do Conselho Deliberativo

Cenário e proposta
“O Sport está extremamente tumultuado. É preciso serenar para não tomar medidas precipitadas. Está tendo um movimento muito forte para ter uma assembleia geral e pedir o impedimento do presidente. Isso é um processo muito traumático, que deixa sequelas. Então, a gente vai fazer uma proposta de conciliação no sentido de se acompanhar as despesas, receitas, a parte financeira do clube.”

Futebol x finanças
“A parte financeira do clube é muito importante. Até mais do que o futebol porque, se a parte financeira for mal, vai prejudicar o futebol durante dez anos. Estão aí o Santa Cruz e o Náutico. Estamos alinhavando isso. Se o executivo aceitar, vamos trabalhar para que não haja necessidade de inibir esse pedido de assembleia geral.”

Balanço deficitário
“É extremamente preocupante. A preocupação existe sobre vários aspectos, tanto sobre prejuízo como na inadimplência tributária, inadimplência de parcelamento de débitos, é uma coisa extremamente preocupante.”
 
A situação
 
Gustavo Dubeux, vice-presidente


Antecipação de cota
“Há uma garantia do presidente que é fundamental. Todo adiantamento que for contraído vai ser pago dentro da própria gestão. Então, quem for assumir o clube no próximo ano, não vai ter que abater nenhum adiantamento das cotas de televisão. Isso é uma coisa fundamental. Essa é uma das grandes preocupações dos questionamentos realizados.”

DS 87 e André
“Diego Souza e André quiseram sair do Sport. O Sport não disse que queria vender. O próprio André se negou a jogar e Diego procurou o presidente para ser negociado. Mas, evidentemente, todo investimento que você faz, é para ter um retorno. Então, um jogador você tem que desfrutar primeiro dele desportivamente, ajudar o clube nas conquistas e depois vender. Foi o que aconteceu”.

Futebol
“Houve uma necessidade de reformulação, que era uma coisa cobrada já há um tempo. Essa reformulação, evidentemente, tem seus ajustes, que estão sendo feitos. O Sport não começou bem o campeonato (Série A). O Sport, com o dinheiro que tem, faz investimento em jogadores da região que estão despontando e traz jogadores, como Diego Souza e André, quando estão na baixa. São oportunidades de mercado”.

No fim do ano
“Ele (Arnaldo Barros) não vai deixar para a próxima gestão nenhuma questão para abater no próximo ano. Se você entrar num clube e tiver que abater da receita questões da gestão anterior é muito ruim. Isso é comprometimento de Arnaldo de deixar o clube assim. A venda dos jogadores foi diluída ao longo do ano e vai ser possível ajustar. Então, se Deus quiser, o Sport vai terminar o ano na Série A mais uma vez e com uma situação financeira tranquila para quem venha a assumir.”

Augusto Carreras, diretor em 2017

Debate antecipado
“Eu acho que estão tentando antecipar um debate eleitoral, que só vai acontecer no final do ano. Isso é extremamente prejudicial ao clube. Não constrói nada em um momento em que o clube precisa de apoio. Os próprios ex-dirigentes se antecipam em desestabilizar o clube e descredenciá-lo no cenário nacional. Vejo muito pessimismo quando estamos começando um Campeonato Brasileiro.”

Dívidas
“Não tenho a menor dúvida de que o clube chegará ao fim do ano com as questões sanadas, até porque tem recursos para entrar. Recursos que eu chamo de extraorçamentário, que não estavam previstos no orçamento, como a venda de atletas. Tivemos as vendas de André e Diego Souza. Está se falando em um déficit de R$ 18 milhões, só essas duas negociações, elas giram em torno de R$ 20 milhões.”

Investimentos altos
"Não sei se recordam, mas, em 2017, tivemos a orientação de reduzir em 30% a despesa com o futebol. Em 2017, não houve nenhuma ‘luva’ contrato de patrocínio. O Sport viveu em 2017 com as receitas orçamentárias com um incremento de ter que pagar a aquisição de jogadores. A compra de André vai aparecer no balanço de 2017, mas a venda, com lucro de 100%, só vai aparecer em 2018.”