Pisando em ovos Contratado em meio a uma crise que atinge o futebol e o cofre do Sport, Claudinei Oliveira dispensa comentar a saída de Nelsinho Batista

Brenno Costa
brenno.costa@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 26/04/2018 03:00

Foi tudo muito rápido. Menos de um dia após a saída do técnico Nelsinho Batista, o Sport definiu o novo comandante do time para o resto da Série A. Cabe a Claudinei Oliveira (ex-Avaí) a missão de reunir os escombros após as explosões das últimas bombas que caíram sobre a Ilha do Retiro. Alheio à crise financeira e política do clube, o novo comandante chegou ao Recife ontem à noite. Na bagagem, traz a confiança de quem pode fazer diferente. Fazer, enfim, com que o Sport possa se ajustar em campo para se livrar dos momentos de incerteza na temporada.

Hoje pela tarde, ele já dá o primeiro treino no CT. Será, no entanto, uma movimentação decisiva para avaliar o grupo de olho no duelo às 16h deste domingo, contra o Paraná. Antes disso, Claudinei já se enche de confiança. “Eu acho que é uma grande oportunidade de trabalho. O Sport é um grande clube, é uma camisa pesada. Espero chegar para fazer um grande trabalho. Chego muito motivado em fazer uma grande Série A”, declarou.

O novo técnico do Sport pisa no clube dois dias após uma votação acalorada no Conselho Deliberativo em que foram aprovadas as contas do clube de 2017. Além disso, irá se deparar com um cenário de incertezas com a saída de Nelsinho Batista e uma campanha dos sócios de pedido de impeachment do presidente Arnaldo Barros. Mesmo com esse contexto, Claudinei prefere conhecer o ambiente pessoalmente antes de tecer qualquer comentário.

“Eu não vou me manifestar sobre nada que Nelsinho falou e nem a diretoria. Estou fora do contexto ainda. Estou chegando agora para conhecer as pessoas do clube melhor, como funciona, conhecer os dirigentes pessoalmente. Conversei apenas por telefone. Então, não posso me manifestar em relação a isso”, avaliou.

“Posso falar que eu não vejo problema em ambiente de trabalho. Em todos os clubes que eu trabalhei, geralmente quando você é contratado no meio de temporada, é porque as coisas não estão caminhando bem. Se estivesse bem, não teria troca de comando. Houve essa troca e a gente chega para tentar agregar e dar a nossa colaboração. Agora, não posso falar do cenário político do Sport, porque não tenho conhecimento. Vou ter quando chegar”, acrescentou.

A carreira
Claudinei Oliveira, de 48 anos, está no futebol profissional desde 1989. Ainda jogador, iniciou a carreira no Santos e depois passou por diversos clubes - a maioria deles do interior de São Paulo. A transição para o comando técnico aconteceu justamente no clube que o formou. Em 2009,  começou a trabalhar no time sub-15 do Peixe. Foi ascendendo de categoria até que, em 2013, assumiu o time principal interinamente.
 
Entrevista - Daniel Paulista // ex-assistente técnico do Sport
 
“Eu não esperava”
 
Você foi pego de surpresa com a sua demissão?
Fui pego de surpresa. Foi uma situação que não esperava, até porque vinha desempenhando minha função no clube já há algum tempo. Infelizmente, aconteceu a saída do Nelsinho ontem (anteontem) e, após o treinamento, fui surpreendido com decisão da diretoria de futebol de me demitir.

Você chegou a receber algum alerta de que se Nelsinho saísse você também sairia? Uma ameaça que teria vindo devido a uma suposta acomodação sua no Sport...
Não sei te dizer se isso (alerta de demissão) aconteceu. O que eu posso dizer é que de maneira nenhuma estava acomodado no cargo, até porque sempre exerci minha função com o maior afinco, tanto como treinador como auxiliar. Nunca fugi de nenhuma responsabilidade que foi me dada no Sport, até porque assumi a equipe em momentos muito complicados, onde a responsabilidade era gigantesca.

Nelsinho reclamou de salários atrasados. Você também está na mesma situação?
Minha situação é de funcionário, no caso está em dia. Não tenho nada para colocar a respeito disso.

Você se sente com a sensação de missão cumprida nesta passagem pelo Sport?
Não tenho dúvida disso. Ter ajudado o clube a conquistar duas vezes a permanência na Série A quando a equipe estava com percentuais altíssimos de rebaixamento foi um feito. Dificilmente as pessoas conseguem como eu consegui, lógico que com a ajuda de outras pessoas, dos atletas, funcionários… Os resultados foram conquistados. Mas saio de cabeça erguida porque dei o meu melhor. E se o Sport está hoje na Primeira Divisão, não tenho dúvida que se deve a uma parcela grande também do meu trabalho.
 
Arnaldo: clube está em crescimento
 
Em coletiva na Ilha do Retiro, no fim de ontem, o presidente do Sport, Arnaldo Barros, reproduziu para a imprensa as informações entregues na última terça-feira ao Conselho Deliberativo rubro-negro. Em prestação de contas, o gestor esquematizou uma apresentação de slides e, detalhadamente, revelou dados financeiros do clube, tanto no aspecto de investimentos quanto de despesas. Apesar de frisar as dificuldades constantes, segundo ele, desde gestões anteriores, Arnaldo declarou que o Sport está em crescimento efetivo.

“O passivo (gastos) do Sport vem crescendo desde 2015 porque precisamos pagar os investimentos. O que não é mencionado é que o ativo cresceu proporcionalmente ao passivo. Tudo isso é uma engrenagem que precisa ser entendida. O Sport está em crescimento efetivo pelos números oficiais. Isso é crescimento”, defendeu o presidente. “Vale ressaltar que estas informações são exatas, protegidas de fraudes, refletem a realidade financeira do Sport e respondem às recomendações contábeis feitas pela auditoria”, completou.
 
O balanço financeiro de 2017
R$ 9.073.021,30 de débito com impostos
R$ 18.313.641,14  de déficit
R$ 123.785.387,00 de gastos
R$ 105.471.746,00 de arrecadação