Diario esportivo

por Fred Figueiroa
Twitter: @fredfigueiroa
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Publicação: 01/05/2018 09:00

Onde o Náutico se perdeu

A posição do Náutico na classificação da Série C salta aos olhos. Por tudo o que fez nos primeiros três meses da temporada, pelo encaixe defensivo da equipe, pelos mais de R$ 4 milhões arrecadados com premiações e pelos reforços contratados, o natural era que o alvirrubro - mesmo com uma natural desaceleração após o título estadual - apresentasse um grau de competitividade maior. Este ainda é o caminho natural, diga-se de passagem. O Náutico logo deve se restabelecer para “entrar no campeonato”, até porque a tabela permite, com as duas próximas rodadas em casa, diante de Salgueiro e Confiança. Mas já não é possível ter expectativas imediatas para algo além de “entrar no campeonato”. A possibilidade de fazer uma primeira fase segura diminuiu consideravelmente após as três primeiras rodadas. Não pela matemática ou pela qualidade do futebol, mas fundamentalmente porque a sequência foi quebrada e a Série C passa a exigir um outro perfil de time. A incrível sequência alvirrubra em 2018 foi movida com intensidade e confiança perto do limite. Uma soma que realmente costuma ter um prazo de validade curto.  É aquela velha história: Ninguém consegue jogar um campeonato de pontos corridos jogando com espírito de mata-mata.

Referências distantes
Nas três partidas da Série C, o Náutico se comportou como um time comum, jogando uma partida comum. Como fizeram seus adversários. Ninguém “jogou a vida”.  E isso o coloca no intenso perde/ganha que costuma ditar o grupo do Nordeste e Norte na terceira divisão. A única forma de se diferenciar do “bolo” agora é com qualidade técnica, com alto nível de desempenho. E aí sim, já não há mais referências próximas para o Náutico. A última boa partida foi na quarta rodada da fase de grupos da Copa do Nordeste, quando venceu o Bahia por 1 a 0 na Arena de Pernambuco. Desde então, atuações sofríveis e desastrosas se intercalam - incluindo toda a reta final do Estadual. Porém, ali, era um outro contexto. Havia uma intensidade absoluta impulsionada por uma torcida que parecia disposta a viver o momento. Uma semana depois do título sobre o Central, pouco mais de três mil torcedores foram ao estádio para a estreia no Brasileiro. A chave foi virada abruptamente. A a eficiência da equipe se perdeu exatamente ali.

Nova linha de trabalho
Agora Roberto Fernandes precisará reformular sua linha de trabalho sob uma dose considerável de pressão. Dar murro em ponta de faca será em vão. Querer o Náutico do Estadual disputando a Série C é um erro. A página virou. E por mais que o próprio técnico fale isso em todas as entrevistas, ele precisa fazer isso na prática. Talvez na reta final da fase de classificação ou nas quartas de final, a essência do Náutico do primeiro trimestre seja resgatada. E aí a “casca” que esse elenco ganhou pode voltar a ser decisiva. Mas o fundamental é separar as coisas. No momento, o X da questão não deve estar na motivação ou concentração e sim, na preparação técnica e tática. O Náutico precisa passar a jogar como um dos quatro melhores times do grupo. Não fez isso até aqui. Nem de perto.

Roberto em xeque?
Nas redes sociais já existe uma corrente formada contra o trabalho do técnico Roberto Fernandes. O principal argumento é que o perfil do treinador e do time montado por ele funcionou no recorte necessário, mas agora se esgotou. E insistir com ele significa perder tempo em uma competição relativamente curta (equivale a um turno das séries A e B). Não é uma argumentação insana, mas é ainda precipitada. Até porque qualquer outro nome seria uma aposta absolutamente incerta. E o grupo de jogadores continuaria tecnicamente fraco. Se existe uma impressão diferente sobre a qualidade do elenco alvirrubro, essa impressão foi moldada a partir do trabalho extremamente consciente desenvolvido por Fernandes até aqui. Então considero lógico que é muito mais fácil o próprio treinador realinhar sua equipe. E vejo ele tentando fazer isso. Só que não é um processo simples e, com efeito da pressão, do desgaste e da perda de confiança, somada ao fato de enfrentar adversários mais maduros e estáveis, fica ainda mais complicado.