COPA 2018 » Nem aí para a Copa ou a seleção A decepção com o 7 a 1 de 2014 e a insatisfação com o momento político do país são fatores que ajudam a despencar o interesse do brasileiro pelo Mundial

Bettina Novaes
esportes@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 14/06/2018 03:00

Ver a seleção em campo é sagrado para a maioria dos brasileiros. Dia de jogo é dia santo. Feriado nacional. Na Copa do Mundo, as ruas são tomadas por um patriotismo difícil de se ver durante os quatro anos que se seguem. Mas, no Mundial de 2018, não está sendo difícil achar os torcedores “do contra”, que preferem ver outras seleções levando a taça dourada para casa ou, até mesmo, aqueles que estão indiferentes ao campeonato.

O professor e jornalista Dario Brito sempre achou a Copa do Mundo um “evento social interessante”. Ele conta que gostava de reunir os amigos em sua casa para torcer pelo Brasil e confraternizar. O ritual se repetia de quatro em quatro anos até o Mundial de 2014, quando jurou nunca mais assistir uma só partida da Seleção Brasileira. “Nem amistoso, nem Copa América, nem nada”, explica em tom bem-humorado, apesar da decepção. Foi duro engolir a derrota por 7 a 1 para os alemães no gramado de casa.

Dario faz parte do alto número de pessoas, no Brasil, que demonstram indiferença pela Copa do Mundo de 2018. De acordo com pesquisa do Datafolha, 53% dos brasileiros afirmaram não ter interesse no Mundial deste ano. Os dados ainda revelam que este é o pior índice às vésperas do torneio desde 1994, quando o instituto fez a pergunta pela primeira vez. Nunca, nesses 24 anos, mais da metade da população havia demonstrado tanto desinteresse.

“A possibilidade de perder o jogo, ok. Mas não daquela forma. Daquele jeito, naquele momento. Foi um negócio traumático”, justifica o jornalista, a falta de entusiasmo com copa. Além da seleção brasileira, ele não pretende assistir às partidas de outros países. “Não vou acompanhar nada, nem meio jogo. Isso toma um tempo muito grande das pessoas. Meu desejo é que Brasil perca de 14 a 1”, pragueja, rindo, o professor universitário. Ele conta, ainda, os planos para os dias em que seus amigos estiverem assistindo aos jogos da Seleção Brasileira. “Vou ao cinema, viajar, aproveitar que o trânsito vai estar tranquilo. Este ano, a copa vai ser diferente”, finaliza.

O maior índice de desinteresse, até então, havia sido antes do Mundial de 2014. De acordo com o estudo, 36% dos brasileiros se demonstraram indiferentes ao torneio. Na época, uma série de movimentos estudantis se espalhou pelo país, criticando os gastos bilionários com as construções e reformas dos estádios da Copa do Brasil. Ainda segundo a pesquisa, o número de desinteressados com a Copa da Rússia é maior entre mulheres (51%), pessoas de 35 a 44 anos (57%), moradores da região Sul (59%) e aqueles com renda familiar de até dois salários mínimos (54%). A professora de Inglês Melanie Menezes, 22, é uma dessas mulheres que não pretendem assistir aos jogos do Mundial.

A jovem afirma que vai deixar de acompanhar a Copa por questões políticas. Para ela, o futebol vem sendo usado como manobra de alienação social no país. Prática que classificou como “pão e circo”. “Aqui se pausa até greve por esse esporte. É como se as pessoas ficassem tão alienadas a ponto de pararem a vida em função disso”. Melanie critica, ainda, o fato de serviços básicos não funcionarem no Brasil enquanto o futebol recebe um alto investimento financeiro. Ela acredita que a educação, por exemplo, é deixada de lado em detrimento desse esporte. “O certo seria se as escolas públicas oferecem educação melhor do que a rede privada, mas, para isso acontecer, é preciso que os professores sejam mais valorizados que jogadores de futebol”, afirma. No primeiro jogo do Brasil, que ocorre neste domingo (17), Melanie conta que, no lugar do jogo, vai ocupar o tempo “estudando para um seminário da faculdade”.

Brasileiros sem muito interesse pela Copa 2018

Interesse expressado antes das Copas do Mundo



Fonte: Datafolha (2.824 entrevistados em 6 e 7 de junho, margem de erro: +/- 2 pontos)