ALICE DE SOUZA
Publicação: 27/02/2014 03:00
Cada gesto carrega as expectativas de 120 integrantes que aguardam o ano inteiro para vestir suas roupas e brilhar no carnaval |
Nelson Cândido Ferreira esconde muitos segredos entre a respiração ofegante, o olhar firme e os passos lentos. Ele é a força e o semblante de um dos mais representativos grupos de caboclinho da cidade de Goiana, Zona da Mata Norte, o União Sete Flechas. Aos 72 anos, o responsável por reunir 120 integrantes, promover ensaios, supervisionar a confecção da luxuosas fantasias, trabalha em ritmo acelerado. Tem uma agenda de apresentações a cumprir no carnaval e um pacto a honrar. “Eu estava viajando de ônibus e senti a presença desse caboclo em uma cadeira vazia ao meu lado. Assim iniciamos uma conversa. Todo ano ele vem da Europaa para nos ajudar no carnaval”, narra, explicando a mística por trás do grupo.
Desde esse encontro, já se passaram 22 anos. Época em que só existiam três dos atuais 13 grupos de caboclinhos de Goiana. Apesar de desfilar em caboclinhos desde os 27 anos, ele abriu mão de colocar uma fantasia em nome das dificuldades da idade e, há três anos, cuida apenas do comando da agremiação. O União Sete Flechas trabalha regularmente o ano inteiro para dar vazão à imaginação do fundador e presidente de colocar nas ruas, todo ano, fantasias e adereços novos.
Suntuosas, as peças são elaboradas com cuidado em um pequeno cômodo sem reboco na parte de trás da sede da agremiação e casa do fundador. Aos poucos e com a ajuda dos integrantes, as penas de pavão e ema - cuja média de uso é de 8kg por carnaval - vão sendo coladas à mão uma a uma para formar saias, braceletes e punhos. E aos poucos o marrom dos tijolos do espaço é coberto pela miscelânea de cores de cada roupa, que só podem ser mostradas nos quatro dias de festa pelas 10 alas do caboclinho. Antes, é segredo. “Quem não conhece pensa que é só uma brincadeira. Mas ao vestir a roupa, o corpo não te pertence mais, é do caboclo”, comenta Nelson Cândido.
São caciques, reis, rainhas e baques, cuja obrigação é dar o tom da brincadeira com os tradicionais toques de tesoura, perré, baião e macumba de índio. “A mais conhecida e importante de todas as danças”, segundo Nelson Cândido. Apaixonado pelo caboclinho, o fundador não pensa em abandonar tão cedo a folia, apesar do trabalho. “Às vezes, dá vontade de desistir. Só que é amor demais”.
O União Sete Flechas poderá ser visto amanhã, em Nazaré da Mata, no sábado em Goiana e no Recife na terça-feira (20h), no concurso de caboclinhos realizado no Polo das Agremiações, na Avenida Dantas Barreto.