Fuga de jovens esvazia cidade Com poucas oportunidades de trabalho, Maraial perdeu 47% de sua população nos últimos 20 anos e se tornou uma %u201Ccapital da terceira idade%u201D

ed wanderley (texto)
edwanderley.pe@dabr.com.br
teresa maia (fotos)

Publicação: 08/09/2014 03:00


Encravada na Mata Sul, Maraial caminha a passos largos para se tornar a capital da terceira idade no estado. Em 20 anos, a população caiu praticamente pela metade (47%) e não há perspectiva para que o cenário mude. Assim que têm idade suficiente, os jovens - escolarizados ou não - buscam locais com o mínimo de condições de trabalho. São Paulo, Caruaru, Recife, Catende e quaisquer outras cidades com perspectivas melhores que as do município, cuja atividade econômica dos que não trabalham para a prefeitura é a dependente do Bolsa Família, com raras exceções no comércio local.
Joaquim Vicente da Silva, 89 anos, já se despediu de oito filhos. Todos partiram para São Paulo em busca de dias melhores. Um deles, Vicente, fundou uma empresa de socorristas e não apenas levou os irmãos para trabalhar com ele como virou, também, o maior importador da mão de obra ociosa de Maraial. “Por aqui, as pessoas ficam sem fazer nada. Tem que ir mesmo. Ele ajuda muita gente. Todo ano eles nos visitam. Todos. Quando não, a gente vai lá”, conta. Recentemente, uma das filhas retornou. “Para cuidar da gente”, conta Teresa Leonora da Conceição, 83. “Ele perdeu a visão, fica difícil. Ela trabalha na prefeitura, que é o que dá pra fazer aqui.”
De acordo com a secretária de Administração da cidade, Irys Thyally de Oliveira Flôrencio, o cenário de Maraial é decorrente da crise do setor sucroalcoleiro e da falência das usinas de cana-de-açúcar. Sem nem mesmo a educação básica, a população acabou refém da falta de investimentos na cidade e dos empregos formais, o que levou o desemprego às alturas.
“As pessoas aqui não foram educadas para viver, apenas para sobreviver”, sentencia a secretária. “Já disponibilizamos ônibus para levá-las a fazerem cursos técnicos ou superiores em Palmares e Caruaru. Também queremos trazer cursos para cá e temos plano de investir para tentar fazer, daqui, um polo de confecções. Mas precisamos do estado.”
Ao aguardar, a população de Maraial vai comemorando pequenas conquistas, como as poucas escolas que possui ou os três postos de saúde. Mas, por enquanto, os planos não mudam, nem junto aos idosos que foram ficando para trás no município. Dona Teresa, por exemplo, diz não ter vontade de morar junto aos filhos em São Paulo, mas quer se mudar para Ribeirão, a poucos quilômetros de Maraial. “Nem conheço. Mas deve ser melhor de morar lá. Melhor que aqui”.