A oficina de sonhos do Mestre Cunha Artesão do Jardim Jordão transforma pedaços de madeira em brinquedos. Peças estão espalhadas em galerias e museus até fora do Brasil

Aline Ramos
alineramos2.pe@dabr.com.br

Publicação: 12/10/2014 03:00

Os brinquedos de Mestre Cunha têm cabeças de animais e são batizados com nomes especiais (ALINE RAMOS/DP/D.A PRESS)
Os brinquedos de Mestre Cunha têm cabeças de animais e são batizados com nomes especiais
Ao subir a Rua do Sossego, em Jardim Jordão, Jaboatão, escutamos um homem cantarolando. Foi assim que, depois de muito procurar, encontramos o ateliê de José Francisco da Cunha. Um terraço pequeno, cheio de madeiras, colas, furadeira, chaves de fenda, uma “bagunça só”, como o Mestre Cunha denomina o local. Mas em cima de tudo isso, estão os frutos dos sonhos do artesão.

Nascido em Ipojuca, Cunha, 63, foi canavieiro, ajudante de pedreiro, vigilante e ambulante. Aos 39 anos, se viu desempregado e tomou a iniciativa de pegar pedaços de madeira e transformá-los em arte. “No começo só fazia peças de decoração. Tentei vender na praia, mas ninguém queria. As coisas melhoraram quando fui convidado a dar uma oficina de artesanato para crianças e tive que fazer brinquedos. Fiz o cavalo de pau e depois comecei a fazer carros, animais, navios e aviões”, lembra.

Os carros e aviões dele não são brinquedos comuns. Cunha inclui cabeças de animais que surgem em seu imaginário.“Todas as peças eu vejo em sonho ou me inspiro quando estou andando na rua e vejo algo interessante.”

A mistura desperta a curiosidade infantil. “Sempre vejo as crianças mexendo, brincando e achando diferente.”

Antes de vender, Cunha se preocupa com cada detalhe da peça. O dom vem de longe. Na infância, ele e o irmão usavam partes da bananeiras para fazer um trator. Como murchava no outro dia, eles tinham que fazer de novo. Até que Cunha teve a ideia de usar madeira.
Hoje, ele ministra oficinas de brinquedos em todo o Brasil e tem peças de decoração em galerias e museus de vários países. Questionado se a tecnologia pode diminuir o interesse em brinquedos em madeira, ele ressalta: “Esses brinquedos não vão acabar. Tenho certeza que os pais vão continuar passando essa tradição para os filhos.”