Água contaminada em Boa Viagem Análise feita em poços artesianos de edifícios do bairro encontrou altas concentrações de ferro e manganês, que podem causar problemas de saúde

Publicação: 14/11/2014 03:00

Para a Compesa, resultado pode indicar problema mais abrangente em um bairro com 42 mil domicílios (Paulo Paiva/DP/D.A Press)
Para a Compesa, resultado pode indicar problema mais abrangente em um bairro com 42 mil domicílios
Cerca de 1,5 mil poços artesianos estão em operação na Região Metropolitana do Recife e desses, 300 funcionam em condomínios que também compartilham a rede de água da Compesa. Há um mês, um condomínio localizado na Rua Dona Maria Carolina, em Boa Viagem, suspeitou da qualidade da água do poço e enviou amostra à Compesa. O resultado apontou que a água continha chumbo e manganês em níveis 14 vezes acima do admitido para o consumo humano, conforme a Portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde. O prédio não é o único com o problema.

Depois que os moradores do condomínio resolveram voltar a usar a água apenas da Compesa, a companhia decidiu ampliar o perímetro de análise da água dos poços e solicitou ao Laboratório de Análises Químicas da UFPE uma investigação na qualidade da água dos poços em um raio de 400 metros do primeiro perímetro. A coleta de água foi feita em 11 prédios, dispostos nas ruas Padre Bernardino Pessoa, Dona Maria Carolina, Ministro Nélson Hungria e Professor Júlio Ferreira de Melo. As amostras apresentaram a presença de metais como ferro e manganês acima do permitido.

“Nós não encontramos chumbo nas análises. A amostra enviada para a Compesa foi coletada pelos próprios moradores e seria necessário repetir a coleta, mas no material coletado por técnicos do laboratório há presença elevada de ferro e manganês”, revelou o professor de engenharia química da UFPE.

“É claro que temos interesse em ter esses clientes, mas o mais importante é que a população tenha água de qualidade, que pode ser da Compesa ou do poço, desde que tenha um acompanhamento da qualidade”, ressaltou o diretor comercial da Compesa, Franklin Azoubel.

Deixar de usar água do poço não está nos planos do administrador Henrique dos Santos, 54 anos. Ele mora em um prédio em Boa Viagem - que não foi incluído na análise - usa água de poço desde 1999. “Aqui no prédio é feita uma manutenção uma vez por ano e me sinto absolutamente seguro com a água.”

Em Pernambuco, a análise da qualidade da água tem que ser provada por quem deseja abrir o poço. O interessado precisa apresentar um laudo antes de obter a outorga junto à Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac). “A outorga é concedida a partir da análise da água que consta no laudo. Nós verificamos também a vazão do aquífero”, explicou o presidente da Apac, Marcelo Asfora. Segundo ele, a partir da denúncia feita pela Compesa, os poços artesianos que apresentaram contaminação serão fiscalizados para saber se os mesmos estão regulares.

“A outorga é renovada a cada dois anos e precisa de um laudo que garanta a qualidade da água. Vamos fiscalizar se esses poços estão regulares e comparar os dados com os laudos que foram apresentados na ocasião da liberação da outorga”, afirmou.