Hora de julgar um crime horrendo
Nove anos depois, policiais militares acusados de obrigar 17 adolescentes a pular de uma ponte, matando dois deles, vão a júri popular
WAGNER OLIVEIRA
wagneroliveira.pe@dabr.com.br
Publicação: 19/05/2015 03:00
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Adolescentes brincam de pular da ponte. Em 2006, vítimas foram forçadas |
O julgamento do tenente da Polícia Militar Sebastião Antônio Félix e quatro ex-colegas de farda - Aldenes Carneiro da Silva, José Marcondi Evangelista, Ulisses Francisco da Silva e Irandi Antônio da Silva -, que foram expulsos da PM após o crime, está marcado para amanhã, às 9h. Outros três acusados ainda serão julgados
Os corpos dos adolescentes Zinael José Souza da Silva, 17, e Diogo Rosendo Ferreira, 15, foram encontrados em dia 1º de março de 2006, no rio, na altura da Torre. O caso publicado com exclusividade pelo Diario resultou no afastamento de 13 PMs.
O grupo de adolescentes foi abordado na noite de 28 de fevereiro, terça-feira de carnaval, por duas viaturas perto do Cais de Santa Rita. Eles seguiam para o Marco Zero, onde iriam brincar. Segundo sobreviventes, os garotos foram colocados nas viaturas, circularam por várias ruas e depois foram levados para as imediações da Ponte Joaquim Cardoso, em Joana Bezerra. Lá, teriam sido espancados com golpes de cassetete e tapas, e depois obrigados a pular.
Como não sabiam nadar, Diogo e Zinael morreram. Familiares das vítimas afirmaram que os meninos foram confundidos com um grupo que realizava furtos no Bairro do Recife. “Nossos filhos não eram ladrões. Só porque estavam com os cabelos pintados de loiuro os policiais pensaram que eles estavam roubando”, afirmou a mãe de dois garotos agredidos.
Em depoimentos, os PMs contaram que pegaram os meninos e depois os abandonaram, sem agressões. No entanto, segundo o delegado responsável, não restam dúvidas sobre a participação deles. “Esses cinco foram indiciados estão indo a júri. Os outros três foram denunciados e serão julgados depois”, ressaltou Paulo Jeann Barros. Depoimentos de vítimas e testemunhas, mapeamento das viaturas por GPS, recibos de devolução de dois cassetetes quebrados e reconhecimento fotográfico dos suspeitos pelas vítimas e testemunhas foram decisivos no inquérito.
“Tomara que agora a Justiça seja feita, pois já se passaram muitos anos e os culpados não foram punidos”, desabafou a irmã de Diogo, a dona de casa Patrícia Ferreira. Todos os acusados estão respondendo aos crimes em liberdade. O caso do tenente Sebastião, que não foi expulso, está sendo analisado pelo Conselho de Justificação do Tribunal de Justiça da Pernambuco.