Paulistas e pernambucanos contra palmarinos

Publicação: 06/06/2016 03:00

Constatando, então, que, contando apenas com as suas próprias forças, seria impossível vencer Palmares, o governador Souto Maior radicalizara: chamara o bandeirante Domingos Jorge Velho, que vivia no Piauí, prometendo-lhe muitas terras em troca dos seus serviços. Para isso enfrentando, inclusive, a resistência de muitos pernambucanos, mais temerosos dos paulistas — “gente bárbara e indômita, que vive do que rouba” — do que dos próprios quilombolas.

A proposta agradara a Jorge Velho, que fechara o negócio e atacara Palmares, em 1692. Mas, habituado a massacrar índios, que desconheciam táticas militares, também fora batido pelos experientes guerreiros de Zumbi. Até que, em 1694, à frente de nove mil homens — os holandeses que haviam conquistado Pernambuco, em 1630, eram apenas sete mil —, e com apoio do capitão pernambucano Bernardo Vieira de Melo, o bandeirante conseguira, enfim, a vitória, promovendo um espantoso massacre.

Zumbi, porém, conseguira escapar. E por dois anos não fora apanhado, mudando de um esconderijo para outro, até seu genro Antônio ser capturado e, sob tortura, revelar seu paradeiro. Mas, ao ser surpreendido, ele não aceitou render-se, matando um inimigo e ferindo vários outros até ser morto, com quinze tiros e inúmeras facadas.

Para comprovar que aquela figura lendária tivera mesmo fim, seu cadáver — pequeno e magro, para surpresa de muitos — foi levado para Porto Calvo. Lá, sua cabeça foi cortada, salgada e enviada para o Recife, onde o governador mandou exibi-la “no lugar mais público desta praça”, para “satisfazer os ofendidos e queixosos e assustar os negros, que o julgavam imortal”. Entretanto, ele continua vivo, na memória popular.

Em todas as regiões brasileiras existiram quilombos, e há muitas comunidades deles remanescentes ou em processo de reconhecimento como tal pela Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério da Cultura. Um certificado que, teoricamente, lhes dá direito a terra e acesso a projetos de sustentabilidade, preservação e valorização dos seus patrimônios, de acordo com os artigos 214 a 216 da Constituição.

Na próxima semana, Bernardo Vieira de Melo, que também participou da “guerra dos mascates”.