Jogo de peteca levado a sério
Projeto de ex-militar e atual pastor da Igreja Batista ensina o badminton para crianças do Curado e São Lourenço
Alice de Souza
alice.souza@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 27/08/2016 09:00
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"Não sabia nem o que era badminton quando comecei, mas hoje é o meu esporte preferido. Melhorou até a minha vida saudável. Antes corria e ficava cansada. Agora perdi até uns 3 kg" Melissa Freitas, 14 anos |
Segundo esporte mais praticado no mundo, o badminton ainda é pouco conhecido no Brasil. Nem a primeira participação de representantes brasileiros na modalidade, na história dos Jogos Olímpicos, rendeu alguma exclusividade nos horários das televisões abertas durante a Rio 2016. A constatação foi feita por dedos nervosos de meninos e meninas do Curado 4, no Recife, e de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana. Eles conheceram o esporte e aprenderam a passar a peteca de um lado a outro da quadra há cerca de sete meses. Desde então, deixaram de lado as modalidades mais populares no país.
A descoberta é parte do projeto Badminton Saúde e Vida, criado por um ex-militar e atual pastor da Igreja Batista Memorial. Ronaldo Teófilo Santos, 49 anos, descobriu o esporte em reportagens. Adorador de atividades com raquete, como frescobol e tênis de mesa, ele se interessou também por aprender o badminton. Inscreveu-se em cursos online e com videoaulas absorveu as regras e a metodologia para ensinar aos meninos. Então decidiu abrir o projeto, em novembro do ano passado. No início, eram quatro participantes, todos convocados nominalmente. Hoje são mais de 40, entre crianças que foram chamadas mediante anúncios na escola e outros, estes em menor número, que procuraram voluntariamente o ex-militar.
“Pensei que poderia ter um adesão maior e unir todas as crianças, independente de ser menino ou menina. O badminton pode ser praticado individual, misto, duplas… Outros esportes já estão saturados, como futebol e vôlei”, explicou Ronaldo Teófilo. Para participar do Saúde e Vida, é preciso ter no mínimo 9 anos, idade que segundo o ex-militar é melhor para manejar a raquete, e ser estudante matriculado. O objetivo do criador é ajudar a reduzir a evasão escolar, melhorar a socialização entre as criança e os adolescentes e proporcionar bem estar físico e emocional.
Ao contrário do que possa parecer, a meta não é evangelizar as crianças perante a doutrina evangélica. Pelo contrário, Ronaldo também pretende descontruir a imagem de que a parcela da população que segue essa religião não pode praticar esportes. O grupo atual é ecumênico e participam, inclusive, adolescentes que não seguem nenhuma religião. O projeto também chegou, nos últimos meses, a Camocim de São Félix, no Agreste.
As aulas acontecem na quadra da Escola Estadual Leonor Porto, em São Lourenço da Mata, aos sábados pela manhã, e também na praça do Curado 4, nas quintas-feiras à noite. A demarcação é improvisada de giz. As raquetes, petecas e redes foram doação, mas não suprem a demanda crescente do projeto. Mais duas redes e 20 raquetes, para que cada aluno pudesse treinar os fundamentos ao mesmo tempo, seriam o ideal. Como elas não existem, são frequentes as queixas ao professor diante da espera para usar os equipamentos. Às vezes, acontecem pequenos conflitos.
O badminton foi incorporado ao programa olímpico em 1992. Nos jogos Rio 2016, competiram 172 atletas, em número igual entre homens e mulheres. A maioria deles tem entre 26 e 30 anos. A China foi a maior medalhista na modalidade, com três medalhas, duas de ouro e uma de bronze. Completam esse pódio Japão e Espanha.
O Brasil, país-sede, teve dois representantes na competição: Ygor Coelho e Lohaynny Vicente. Os dois saíram de projetos sociais. A esperança de Ronaldo é incentivar os meninos pernambucanos a seguirem o mesmo caminho.
O que é
É um esporte parecido com tênis, no qual os adversários precisam lançar para o outro lado da quadra uma peteca, utilizando uma raquete
História
- Há relatos de que os chineses, há mais de 2 mil anos, já rebatiam petecas com os pés
- No início do século 19, na Índia, o jogo como se conhece e se pratica hoje teve as regras consolidadas
- Ganhou visibilidade na Inglaterra, para onde foi levado por militares
- A versão oficial do jogo é de 1873
- O badminton só chegou ao Brasil em 1984
- O país estima ter cerca de 50 mil praticantes
- Três atletas brasileiros integram o ranking dos 100 melhores do mundo