Os pernambucanos e as fogueiras de Bonito

Publicação: 15/08/2016 03:00

Como não descobriu quem fizera os disparos — e, consequentemente, sem poder investigar se houvera cúmplices, nem quem eram eles —, Rego mandou prender arbitrariamente 55 pernambucanos ilustres. Na maioria, recém-anistiados, que haviam saído das masmorras de Salvador três meses atrás. E despachou 42 para Lisboa e 13 para Fernando de Noronha.

Mas o tiro lhe saiu pela culatra. Outros retornados criaram, então, um “governo constitucional temporário” pernambucano, com sede no distrito de Goiana, desconhecendo sua autoridade e declarando-se subordinados apenas às Cortes e ao rei.

Luís do Rego ainda tentou um acordo, propondo que elementos da junta de Goiana se unissem à sua. Os rebeldes, contudo, recusaram; e atacaram o Recife, em setembro.

Dono, porém, de larga experiência militar, e contando com um reforço de 350 homens vindos da Bahia, o general conseguiu conter o ímpeto daqueles bravos, mas improvisados guerreiros. Com o impasse nos combates, foram abertas negociações em Beberibe, onde se instalara o quartel-general rebelde. E após muitas tratativas chegou-se finalmente a um acerto, no dia cinco de outubro de 1821, que entrou para a história com o nome de “Convenção de Beberibe”.

Por esse acordo, os dois lados manteriam suas posições — Rego controlando o Recife e os rebeldes, o interior — até as Cortes e o rei darem a palavra final. E a decisão de Lisboa foi pela criação de uma junta de governo eleita pelos pernambucanos, que acabou sendo inteiramente composta por revolucionários de 1817, com Gervásio Pires na presidência.

Luís do Rego Barreto, então, foi embora, sem dar posse ao sucessor. E ainda viveu muitas peripécias em Portugal, envolvido nas disputas entre absolutistas e constitucionalistas, ao lado desses últimos, até morrer, em 1840, aos 77 anos de idade.

Pernambuco, por sua vez, com governantes nativos e democraticamente eleitos, de acordo com os padrões da época — só votavam homens brancos e de posses —, ficou autônomo, na prática, um ano antes das outras províncias. E, adiante, incorporou-se ao Império. Mas rebelou-se outra vez, em 1824, contra D. Pedro I, na chamada “Confederação do Equador”. E o imperador, tão português e tão autoritário quanto Luís do Rego, nos ameaçou, dizendo: “Pernambucanos, lembrai-vos das fogueiras de Bonito...”.

Na próxima semana, uma inglesa, lady Maria Graham.