Desenhos revelam as cores do grafite no carnaval do Recife Cinco artistas e um coletivo de grafiteiros foram escolhidos para criar a identidade visual da folia

Publicação: 18/01/2017 03:00

Manifestações da cultura carnavalesca poderão ser vistas nas ruas da cidade
Manifestações da cultura carnavalesca poderão ser vistas nas ruas da cidade

Pela primeira vez, a arte de rua será o destaque da decoração do carnaval do Recife. Grafiteiros pernambucanos foram convidados para criar os desenhos que vão colorir as ruas da cidade. Galo, Jota ZerOff, Bozó Bacamarte, Karina Agra, Manoel Quitério e o Coletivo Vacilante são os artistas escolhidos para criar a identidade visual do Carnaval do Recife 2017. Os desenhos dos grafiteiros serão reproduzidos em tecidos e expostos nos principais acessos do Bairro do Recife. O projeto visual continua sendo assinado pelo arquiteto Carlos Augusto Lira, responsável pela decoração do carnaval recifense há 16 anos.

As pinturas, de aproximadamente 25 metros quadrados cada, foram feitas em quatro pontos da cidade. Os desenhos de Galo de Souza e Karina Agra estão no Compaz do Cordeiro, que será inaugurado em março. As grafitagens de Jota ZerOff e Bozó Bacamarte estão na Gerência de Atenção à Saúde do Recife, no Cais do Apolo. A arte de Manoel Quitério pode ser vista no Terminal Marítimo de Passageiros do Porto do Recife, e a do Coletivo Vacilante na Escola Municipal de Frevo Maestro Fernando Borges, na Encruzilhada.

As grafitagens serão fotografadas pelo fotógrafo Fred Jordão. Em seguida, as imagens serão vetorizadas para serem reproduzidas em tecidos e espalhadas pela cidade. “O grande legado da decoração deste ano é que as imagens carnavalescas não vão sumir depois dos dias de festa. A população poderá visitar os originais nesses locais da cidade”, ressaltou Carlos Augusto Lira.

Segundo Lira, o único ponto que será grafitado in loco da decoração do carnaval 2017 será a Avenida Rio Branco. Fechada para obras que devem durar nove meses, a via vai receber grafitagens nos tapumes que a cerca. A Secretaria Estadual de Turismo, responsável pela intervenção na Rio Branco, confirmou que a avenida estará fechada nos dias de carnaval. “Outros tapumes da cidade também poderão ser pintados. Esperamos que alguns espaços contem com a participação da população, que poderá fazer desenhos em alguns desses tapumes”, pontuou o arquiteto.

De acordo com o presidente da Fundação de Cultura do Recife, Diego Rocha, a decoração do carnaval está orçada no mesmo valor do ano passado: R$ 1,5 milhão. “Com a licitação, que ainda será feita, esse valor pode diminuir”, explicou. A ideia de levar a arte de rua para o carnaval da cidade, segundo Rocha, foi do prefeito Geraldo Julio e da primeira dama do Recife, a médica Cristina Melo. “Esse processo criativo é o grande diferencial deste ano. Demos a chance de esses artistas que já estão presentes no cenário local estarem presentes também na decoração do carnaval”, afirmou.

O grafiteiro Galo de Souza, que celebra 20 anos de carreira em 2017, enfatizou que a mudança valoriza a arte urbana da cidade. “A arte que fiz para o carnaval dialoga com o meu trabalho. O principal desafio foi seguir a unidade de linguagem definida para todos os participantes. Será uma alegria, como artista e como folião, encontrar minha arte nas ruas”, disse.

Os grafiteiros


Galo de Souza
- José Cordeiro de Melo Neto, conhecido como Galo de Souza, é recifense e tem 36 anos. Aos 16, fez os primeiros grafites, mas a primeira exposição individual só aconteceu em 2009, no Sesc de Casa Amarela

Karina Agra - A única mulher grafiteira a desenhar para a decoração do carnaval 2017 do Recife é artista plástica, educadora social e designer. Tem um ateliê na Ribeira, Sítio Histórico de Olinda. Ela usa dois estilos: óleo sobre tela e acrílica

Jota ZerOff - Nasceu em Carpina e desenha desde os 8 anos. Começou a fazer arte inspirado em traços dos mangás, desenhos japoneses. Conheceu o grafite em 2010, em uma viagem ao Espírito Santo.  Se inspira nos mamulengos


Bozó Bacamarte - Olindense, Daniel Ferreira da Silva, o Bozó, iniciou a carreira pelas ruas da cidade. Encontrou a identidade visual na xilogravura. Temas como o povo nordestino, crenças, superstições e humor são recorrentes em sua obra

Manoel Quitério - Cercadas de uma atmosfera onírica, as obras de Manoel Quitério se apresentam como uma reflexão sobre o homem e os objetos por ele cultuados. É responsável por intervenções artísticas na Região Metropolitana do Recife

Coletivo Vacilante - Formado pelos irmãos Alexandre Pons, Luciano Mattos, Rafael Ziegelmaier e Heitor Pontes, o coletivo trabalha com tinta óleo, tinta acrílica e spray automotivo. Para eles, os vacilos importam tanto quanto os acertos