Golpe do falso sequestro termina em tragédia Desesperada com ligação de criminosos, médica morreu atropelada. Polícia alerta para estelionato

Publicação: 11/01/2017 03:00

A morte da médica Maria Tereza Wavrik Neves, 70 anos, atropelada por um ônibus na Tamarineira, Zona Norte do Recife, ao tentar fazer recargas de celular para um falso sequestrador, reacendeu o alerta para esse tipo de golpe. Após receber uma ligação informando que a neta e o genro haviam sido sequestrados, a idosa ficou desorientada e foi atingida por um coletivo quando tentava atravessar a Avenida Norte. De acordo com a polícia, a primeira medida que uma pessoa deve tomar é desligar o telefone e contactar a suposta vítima de sequestro.

O delegado Ramon Teixeira, do Grupo de Operações Especiais (GOE), alerta que esse tipo de crime ainda é comum. “O interlocutor tenta manter a vítima na linha para evitar que ela entre em contato com a pessoa que ele menciona”, afirmou. A Secretaria de Defesa Social não notifica especificamente falsos sequestros. Os golpes entram nas estatísticas de estelionato, que registraram 11.680 casos em 2016.

A neta da vítima havia saído para tomar açaí com amigas quando a avó recebeu a ligação. Testemunhas do atropelamento contaram que a médica chegou transtornada a um posto de gasolina na esquina da Avenida Norte com a Avenida Professor José dos Anjos, por volta das 21h. Na conveniência, solicitou recarga de crédito de celular em alguns números. A médica contou que havia recebido uma ligação em que um homem informava que a neta fora sequestrada.

A operadora de caixa informou que não estava fazendo recarga e teria alertado a vítima sobre o golpe. Um policial militar também teria afirmado que a ligação podia ser trote. O falso sequestrador teria ouvido as orientações e ordenado que ela fosse a outro local efetuar uma recarga de R$ 400 em telefones com o prefixo do Rio de Janeiro.

Maria Tereza seguiu a pé a outro posto de gasolina. Ela chegou a atravessar as faixas do sentido cidade/subúrbio e a passar pelos gelos baianos que dividem a pista. Quando estava atravessando as faixas no sentido subúrbio/cidade, porém, foi atingida.

Testemunhas correram para tentar socorrer a idosa, que perdeu uma perna no acidente e morreu na hora. “Tentaram agredir o motorista do ônibus, mas alguns homens protegeram ele”, relatou um funcionário do posto.

A responsabilidade do condutor deve ser investigada pela Delegacia de Delitos de Trânsito. A polícia não informou se tantará rastrear a ligação para identificar o autor. O delegado do GOE, Ramon Teixeira, acha improvável que o criminoso possa ser responsabilizado judicialmente pelo atropelamento.

O corpo de Maria Tereza foi sepultado no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, às 17h de ontem. A gerente da Psicomédica do Detran-PE, Juliana Guimarães, disse que a médica era uma pessoas lúcida, tranquila e reservada.

“Ela atuava como credenciada do Detran desde 2000 e há cinco anos passou a trabalhar com o filho, que é psicólogo, na clínica. Sempre foi muito comprometida e dedicada ao trabalho”, contou. Os atendimentos na Clínica Médica Psicológica (Climep) foram suspensos ontem, sem previsão para retorno.

Proteja-se

3 características do golpe do falso sequestro aplicado por telefone:
  • O golpista tenta manter contato telefônico com a vítima por um longo período a fim de evitar que a pessoa consiga falar com o parente que é mencionado como sequestrado na ligação.
  • As exigências à vítima costumam ser depósito em conta corrente ou recarga de crédito em linhas telefônicas. Como o golpe é normalmente aplicado por presidiários, essas são as imposições mais comuns.
  • É comum que o telefone que aparece na tela do celular da vítima do golpe tenha prefixo de outros estados, uma vez que o crime é praticado por presidiários de vários centros de detenção do país.
Recomendações da polícia em caso de ligação informando um sequestro:
  • Assim que ouvir a informação, desligue o telefone e tente contato com a pessoa que o suposto sequestrador informa ser vítima. Se não conseguir pelo celular, tente telefones fixos ou ligue para pessoas que possam estar com ele.
  • Procure manter a calma e não passar dados pessoais (seus ou da pessoa que ele menciona) a quem telefonou. Para prevenir esse tipo de crime, evite postar informações pessoais ou rotina em redes sociais.
  • Caso não obtenha sucesso nas etapas anteriores, entre em contato imediatamente com o Grupo de Operações Especiais (GOE) pelo telefone (81) 3184-3300 (atendimento 24 horas).
O caso da médica, segundo testemunhas
  1. A médica Maria Tereza Wavrik Neves recebeu, na segunda-feira, uma ligação em que um homem informava que a neta havia sido sequestrada (a garota havia saído com amigas para tomar açaí). De carro, ela parou em um posto de gasolina localizado na esquina das avenidas Norte e Professor José dos Anjos.
  2. Por volta das 21h, na conveniência do posto, ela teria solicitado uma recarga em alguns telefones celulares. Essa teria sido a exigência do suposto sequestrador. A atendente informou que o estabelecimento não estava fazendo recarga e alertou para um possível golpe.
  3. Maria Tereza atravessou as faixas da Avenida Norte no sentido cidade/subúrbio e passou pelos gelos baianos que dividem a pista. Quando estava atravessando as faixas no sentido subúrbio/cidade (ela estaria tentando ir ao posto do outro lado da avenida), foi atingida por um ônibus.
  4. O motorista do ônibus parou o coletivo após o semáforo da esquina da Avenida Norte com a Rua Gomes Coutinho. Testemunhas correram para tentar socorrer a idosa, que perdeu uma perna no acidente e morreu na hora. Algumas pessoas tentaram agredir o motorista do ônibus, que precisou ser protegido no local.